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A origem da palavra 'procissão'

Apr 18, 202521 min
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Summary

Professor Pasquale explora a origem da palavra 'procissão' e sua relação com religiosidade, avanço e marcha. Ele ilustra o tema com análises de canções de Paulinho Nogueira, Criolo e Tavinho Moura, abordando também o uso do verbo 'proceder' em diferentes contextos e significados na língua portuguesa, enriquecendo a discussão com exemplos e referências culturais.

Episode description

Professor Pasquale conversa com Gabriela Echenique sobre a origem da palavra e conta com os auxílios luxuosos de "Procissão de Sexta-Feira Santa", de Paulinho Nogueira, "Hora da Decisão", de Ricardo Rabelo e Dito Silva, com Criolo e "Paixão e Fé", de Tavinho Moura e Fernando Brant.

Transcript

Professor Pasquale, Tatiana Vasconcelos e Fernando Andrade de Folga, o programa é por nossa conta e risco hoje. Bom dia, boa tarde para você. Boa tarde, Gabriela. Tudo bem? Muito prazer. É um prazer muito grande falar com você. Acho que é a primeira vez que nos falamos aqui. E muito bem-vinda, muito bem-vinda. E parabéns pela condução do programa, muita categoria, muito profissionalismo.

Nossa, agora eu vou me achar para o resto da vida. Estava comentando aqui no estúdio que é uma honra falar com o senhor. Eu te acompanho todos os dias no estúdio CBN. Anoto as dicas de português, porque a gente tem que estudar diariamente, né? Até a gente que é jornalista. estuda e aprende cada vez mais. Mas, professor, hoje é a origem da palavra procissão. Procissões que estão acontecendo por todo o Brasil nessa sexta-feira, né? Pois é, procissão é uma palavra que faz parte do...

da religiosidade brasileira. Eu que não sou, não tenho religião, o que não quer dizer que eu seja ateu, mas eu não professo nenhuma religião. Fico comovido, extremamente comovido. com essas manifestações de fé que as pessoas fazem neste dia, na sexta-feira. na sexta-feira santa, sexta-feira da paixão, a paixão eu já até comentei aqui em outras sextas-feiras santas. A paixão de Cristo, a paixão não tem, nesse caso, aquele sentido tradicional de estar apaixonado, a paixão que move, que arrebata.

A paixão aí é de sofrimento mesmo, é de dor. E a procissão é uma palavra muito interessante, porque ela vem... É uma espécie de surpresa a origem de processão. Ela tem relação com o verbo proceder. E a gente está acostumado a pensar em proceder com o sentido de agir, de tomar alguma atitude, não é isso? E tem, a gente pensa também no verbo proceder com a ideia de origem, o avião procede de Manaus.

A gente tem em mente proceder com o sentido de ter cabimento. A sua afirmação não procede, não tem cabimento, não é verdadeira, não se justifica. Mas proceder tem na sua origem latina... A ideia de pro, esse pro que é adiante, a frente, e o ceder, que tem vários significados, um deles é o de movimento. Então essa ideia de proceder é de ir... Avançando, progredindo.

E é o que acontece nas procissões, porque as pessoas se... se juntam e se põem mais ou menos em fila e vão se movimentando lentamente, e não pode ser de outro jeito, porque o volume de gente não permite que... que o passo seja rápido, e as pessoas se movem, elas cedem adiante. E uma coisa interessante... O que a gente observa também é que essa palavra procissão, que em italiano é protezione, vem do latim eclesiástico.

porque existe o latim eclesiástico, o latim das missas, o latim das rezas, das orações e por aí vai. Por sua vez, no latim clássico, essa ideia de procissão significava aquilo que eu já disse, o avanço, ou, e aí é que vem a surpresa, a marcha militar. Ou seja, tem relação com essa ideia de marcha, de ir marchando. de ir seguindo adiante. É uma coisa interessante. Eu me lembro de uma vez um querido amigo, colega,

professor, por ser colega, o Benê, professor de matemática. Benê, um grande abraço para você, você é uma pessoa queridíssima. A gente se encontrou no trânsito, o semáforo fechou. E a gente se encontrou no trânsito, ele estava num táxi sentado. no banco de trás, e a gente não ficou totalmente emparelhado, mas deu pra gente se ver, e ele, Pasquale, qual é a origem da palavra procissão?

Assim do nada? Não, a gente conversou um pouquinho e tal. Ah, escuta, qual é a origem da palavra procissão? E o semáforo ficou verde e os carros andaram e a gente não conseguiu. E o senhor nunca falou para ele a origem da palavra. Não, Benê, esqueci completamente depois de tocar. Benê, é para você este boletim hoje, tá? Figura querida, professor querido, professor de matemática brilhante.

Então a gente vai para os auxílios, porque tem mais umas coisas interessantes aí nos auxílios. A primeira canção que eu vou tocar... Chama-se Procissão de Sexta-feira Santa. Foi composta por Paulinho Nogueira. Você se lembra do Paulinho Nogueira? Olha, eu me lembro bastante do Paulinho Nogueira, mas de ouvido, né? Porque eu sou... Aqui o pessoal brinca que eu sou muito jovem. Mas o meu pai e os meus avós ouviam muito.

Pois é, por isso que eu perguntei, porque o Paulinho Nogueira já foi embora deste mundo há muito tempo, em 2003. E ele era um grande violonista, um grande compositor. Ele era realmente brilhante. Foi professor do toquinho. Foi ele que ensinou o toquinho a tocar violão. E ele compôs muita coisa bonita e compôs essa canção que me toca muito, procissão. de sexta-feira santa e a gente vai tocar um pedaço e prestem atenção no contexto da letra, né? Música e letra do Paulinho. Vamos ouvir.

Querida Gabriela, é de uma simplicidade que toca, que comove. É muito bonita. E ela toca num ponto muito importante, você é jovem, não sei se você viveu esse tempo de que... Da sexta-feira santa não se podia fazer rigorosamente nada, não se podia ligar o rádio, não se podia ligar a televisão. Era muito mais rigoroso, né?

Um negócio impressionante. Eu ouço relatos de gente que tem a minha idade, eu vou fazer 70, nas próximas semanas, eu ouço relatos impressionantes de gente que diz que não podia fazer rigorosamente nada, quando a letra diz nem mesmo criança podia brincar. Mas havia a procissão, que passava lá na minha rua ao anoitecer, aquele monte de gente em procissão, ou seja, pró.

ceder, ir adiante, seguir adiante, a marcha que vai em frente. Agora a gente vai ouvir uma canção chamada Hora da Decisão, composta por Ricardo Rabelo e Dito Silva. quem canta para a gente é o crioulo, isso está no disco dele, Espiral de Ilusão, de 2017, nós vamos perceber a palavra proceder usada de um outro jeito. Aliás, eu esqueci de dizer que a canção anterior...

do Paulinho, está num disco dele chamado Simplesmente, um disco bonito de matar, de 1974. Vamos ouvir o crioulo cantando Hora da Decisão e veja como aparece a palavra proceder. Da decisão de Ricardo Rabelo e Dito Silva com o Crioulo. Nós temos aí na letra, logo no começo, o tempo fechou na favela. Aliás, a letra é dura, fala de uma realidade absurda. É fera engolindo fera. Quem não tem proceder já era. Uma crítica social importante também, né, professor? pesadíssima, como sempre, né?

Nas canções que o crioulo compõe e nas que ele não compõe, como esta, mas interpreta com muita força. Quem não tem proceder, já era. Proceder aí é substantivo. E proceder aí significa... O modo de agir, o comportamento. Então, o dicionário Wise, por exemplo, dá aqui...

O exemplo, um indivíduo cujo proceder pauta-se por características próprias. E o que a letra dessa canção quer dizer aqui, com quem não tem proceder já era, quem não tem... comportamento que não está no padrão, seja lá qual for o padrão. já era, né? Quem não tem proceder. E é bom lembrar que como verbo proceder tem também no sentido de levar a efeito, de executar, e nesse caso, na língua padrão, no chamado padrão culto da língua, ele é usado com a preposição A. O juiz procedeu.

ao julgamento. Ou seja, executou, realizou, deu início, levou a efeito e por aí vai. E como é que está o nosso tempo? Tem tempo para mais uma? Tem, tem tempo para mais uma. Vamos lá. Então nós vamos tocar um clássico da Sexta-feira Santa. Eu já toquei em outras sextas-feiras santas, mas é tão bonito isso que vale a pena. A gente ouve sempre. É uma canção composta por Tavinho Moura e Fernando Branche. Tavinho Moura fez a melodia, Fernando Branche escreveu a letra.

Quem vai cantar desta vez é o Tavinho Moura. A gravação mais conhecida e antológica é do Milton Nascimento. no disco Clube da Esquina 2, se não me engano. Mas a gente vai ouvir com o Tavinho Moura, que é o autor da melodia. Eu separei um trecho, vamos ouvir esse trecho, depois se tivermos tempo eu vou pedir a quem está na mesa hoje.

Juliano Fonseca. Então, eu vou pedir que se der tempo que a gente depois estenda a partir da parada. Tá bom? Se der. Se não der, vocês me dizem e tá tudo certo. Então, vamos ouvir o trecho que eu... que eu destaquei, paixão e fé. A letra é de matar. Fernando estava conversando com os deuses quando escreveu a letra. Meu Deus do céu. Vamos lá. parar por aqui. Muito bonito, hein, professor? Tá doido, tá doido. O Tavinho é um craque, o melodista, o violonista e o cantor.

E o Fernando Branche, linda letra. Diz a letra, a gente ouve essa música e se sente numa cidade do interior do Brasil, dessas tantas. imagens lindas. É uma coisa de louco isso, né? E sai o povo pelas ruas a cobrir de areias e flores as pedras do chão Nas varandas vejo as moças e os lençóis enquanto passa a procissão louvando as coisas da fé. Louvar é uma palavra muito interessante.

Ela tem origem latina e uma palavra da família... é laudável, o superlativo de louvável é laudabilíssimo, por isso que a música que elogia um santo, uma divindade. tem a ver com essa história de louvação, de laudar. A gente jornalista pensa em laudar, pensa na lauda lá do jornal, né? É verdade. Mas é outro sentido. Enquanto passa...

A procissão louvando as coisas da fé. Se tivermos tempo, a gente pode seguir, porque tem uma palavra interessantíssima. Dá para seguir? Podemos, podemos. Estamos com tempo hoje. Então vamos lá. Então prestem atenção que vem um adjetivo depois da palavra ruas. Vamos lá. Azul Já bate o sino, bate no coração e o povo põe de lado a sua dor pelas ruas capistranas.

de toda cor, esquece a sua, o povo esquece a sua paixão, que é o seu sofrimento, a sua dor, para viver a do Senhor, para viver a paixão do Senhor, que é nosso. Senhor Jesus Cristo aí. E essas ruas capistranas, a palavra capistrana tem relação com o sobrenome do João Capistrano, conselheiro. que foi presidente da então província de Minas Gerais e foi ele que mandou colocar isso nas ruas.

de ouro preto. Essa pavimentação, essa capistrana, é uma pavimentação específica, feita com lajes grandes no meio da rua. E isso forma uma espécie de calçada. E aí o povo vai... E coloca flores, coloca serragem, coloca um monte de coisa. para criar aquelas figuras, aquelas coisas lindas que se fazem nessa época do ano em muitas cidades brasileiras. Então é isso. Todo esse envolvimento que há a partir da palavra procissão e de tudo que ela inclui, que ela abraça.

É por aí. É só assim que eu sei fazer língua. Como? E que beleza essa língua portuguesa, né professor? Tantos significados numa palavra só. A origem, as diferenças e a forma como elas são colocadas. Eu sou apaixonada pela língua portuguesa também, não tanto quanto o senhor, mas sou. Acho que o professor... Perdemos o sinal com o professor Pasquale. O professor Pasquale caiu, mas ele já estava concluindo, já tinha terminado.

Mas que ensinamento ele trouxe aqui para a gente com a origem da palavra procissão. que tem até relação, como ele falava, até com a marcha. E aí a gente lembra de marcha militar, interessantíssimo, mas trazendo aí também o verbo proceder e seguir em frente. Professor Pasquale, que deu uma aula para a gente aqui, como sempre dá, e espero que ele esteja conosco.

Na próxima segunda-feira, ele volta com a nossa língua de todo dia, mais uma vez. São 4h26, vamos para um rápido intervalo, a gente volta já já.

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