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Está na hora de esclarecer dúvidas da língua portuguesa. É ficar connosco nos próximos minutos, neste episódio de Português Suave. Eu sou João Costa e Silva, comigo José Rafael Lopes. Isto não se faz. Sem ti, Marco Neves. Olá. Não se faz. Aliás, pode-se fazer. Eu e o José podíamos tentar, mas não seria a mesma coisa. Não é a mesma coisa, não é? Não seria. De todo a mesma coisa. Mas podem experimentar fazer um episódio assim. Não ia correr bem, confesso.
ouvindo-te. Eu ia ouvir. A única forma era, se estivesses por cá, pareceres o nosso corretor, a nossa gramática, quase que o anjinho que fala por cima do ombro. Exato, tinhas de estar com um headset. Não gostou de fazer agora. E hoje, Marco... é um episódio especial. Tem sido assim de seis em seis episódios. Hoje damos a voz aos nossos ouvintes. Esperamos que no 24º também aconteça a mesma coisa. Estamos a criar uma tradição muito estranha. E vamos então a algumas...
dúvidas que os nossos ouvintes enviaram para o e-mail, e não só, alguns enviaram até por mensagem. De qualquer forma, tenho já de avisar que não vamos responder a tudo. Impossível. O nosso e-mail tinha mesmo muitas mensagens. Muitos e-mails, digamos assim, para sermos mais literários.
Então vamos a isso, vamos às dúvidas. José Rafael Lopes, começas tu. Começo com a dúvida que nos chega pelo João Pedro Leão, ou melhor, José Pedro Leão, que fez a seguinte pergunta, Marco Neves, afinal é, tem que haver... Com o verbo haver, tem haver, aliás, ou tem que ver.
Sim, há aqui três formas. Uma delas está errada, claramente. As duas não, embora uma delas seja mais antiga que a outra. Eu gosto quando dizes logo, uma está certa e uma está errada. Gostas mais assim, não é? Simplifica. Simplifica. É verdade, mas às vezes as coisas não são simples na língua. E há essa tendência porque nós queremos isto é assim e às vezes não é bem assim. Mas aqui as nossas três formas. Primeiro, esta expressão...
Para que é que ela serve? Serve para fazer a ligação, ou seja, há uma relação entre os dois elementos. Este assunto tem a ver com aquele outro assunto. É esse o significado. Então, das três formas, que é ter a ver... com o verbo haver com H, ter a ver e ter que ver, com a forma do verbo haver está errada. isso é uma confusão sonora que as pessoas fazem nós podemos imaginar uma forma parecida que será ter a haver
que tem a ver com contabilidade, ou seja, alguma coisa que é preciso vir a receber, mas não tem nada a ver com esta dúvida. Agora, portanto, essa é mesmo só uma confusão, como eu disse, com o facto do verbo haver parecer ter o mesmo som, e tem, mas... é o verbo em ver que nós temos aqui. Ficamos então com duas. Ter a ver e ter que ver. Adoro a pausa que tu fazes. É só para que as pessoas percebam bem qual é que é a distinção. A mais habitual, qual é que é? Digam-me lá. E aí
O ter a ver, não. Ter a ver. Seria a minha escolha. Houve aqui uma ligeira pausa que depois da explicação... Ele faz perguntas e depois eu sinto medo de estar a dizer errado, é só por causa disso. Não, não, mas eu estava só a perguntar a nossa opinião sobre qual é que é a mais comum. E a mais comum é, de facto, ter a ver.
isto tem a ver com isto, isto tem a ver com aquilo. Agora, não é a versão mais antiga. Até o século XIX mais comum era mesmo ter que ver, que é, digamos, a forma que esta expressão tem... tradicionalmente em português. Depois, provavelmente por influência do francês, que nos influenciou muito. O século XIX foi um século em que o francês teve o papel que hoje tem em inglês. Havia pessoas que se queixavam que os escritores escreviam. Esta semana falámos muito
essa de Queiroz, quem se queixasse que essa de Queiroz escrevia muito à francesa. Mas também era quase uma crítica da moda, porque também nem sempre era assim. Mas o certo é que o francês poderá ter influenciado aqui a introdução da proposição A.
e os falantes acabaram por assumi-la, e hoje é muito, muito mais comum dizer ter a ver, e as duas formas estão corretas, agora há uma que é mais antiga, que é ter que ver, que por acaso é mais rara, como vocês disseram e bem, o que leva a que muitas pessoas...
reparem mais nela. Reparem que quando alguém diz ter que ver, eu já disse ter que ver e tive pessoas a reclamar. Porque se calhar estão mais familiarizadas com a outra. Então acham que esta é erro, quando na verdade é a forma mais antiga. Espero estar respondido. está. Vamos à segunda. Do João Martins da Costa. Tem aqui o mesmo nome que eu. Portanto, há aqui uma proximidade. E é uma dúvida que eu tenho muitas vezes. Não é que penso muito nisto, porque simplesmente digo, mas molhos ou molhos?
As duas estão certas, mas querem dizer duas coisas diferentes. Ou seja, antes de mais, é muito habitual nós termos palavras em português que nós dizemos de uma maneira no singular, ovo. e nós mudamos o O quando passamos para o plural e dizemos Ovos e por analogia com esta mudança que se chama Metafonia nós já falámos disto há muitos episódios aqui e é um nome muito engraçado quase que parece o nome de um grupo musical
ou um codo, não sei. Mas, por analogia com estes casos em que nós fazemos isso, por vezes nós dizemos molho no singular e passamos para molhos. Mas, na verdade, nós estamos aqui perante duas palavras diferentes. Nós temos molho e molhos que usamos... na cozinha e molho e molhos que eu até vou usar aqui o que a Infopédia diz para este segundo sentido. É um punhado, um feixe.
um braçado, uma paveia palavra muito rara um conjunto de coisas agrupadas um molho de qualquer coisa um molho de grelos e molhos será o plural desse molho então eu ando a dizer errado se calhar
me referir aos molhos de, pronto, culinária, por exemplo. Sim, passa-me os molhos. Exatamente. Agora vai começar a dizer molhos, se calhar. Os falantes têm tendência para fazer o que lhe... independentemente do que nós temos aqui por isso vais-me dizer depois daqui uns meses se mudaste ou não fica combinado vamos para mais uma dúvida dos nossos ouvintes
Marco Neves é quase que ligada diretamente a ti. O José Maia pergunta, houve um episódio anterior, um momento em que o Marco Neves disse Oceania, mas não devia ser Oceânia? Mudou alguma coisa? Sim, o nosso ouvinte José pergunta se mudou alguma coisa porque diz ele que sempre aprendeu que deveria ser Oceânia. Agora, o que nós temos aqui é como se diz aquela expressão, a doutrina divide-se, ou seja...
Na minha perceção daquilo que os falantes dizem, na minha parte das vezes, a minha perceção é que é mais comum dizer oceania. Não sei se concordam comigo ou não. Sim, sim. Mas aparece, de facto, em muitos recursos, dicionários e por aí fora, a versão oceânia, mas também aparece a versão oceânia. E posso-vos dizer que, por exemplo, nos anos 50, Vasco Botelho do Amaral, que era um dos grandes gramáticos do português,
defendeu Oceania e dizia ele que, aliás, era a forma tradicional e que Oceânia tinha começado a aparecer na opinião dele. Mas Rubilo Gonçalves, outro grande gramático, diz precisamente o contrário, diz que deveria ser Oceânia.
E nós encontramos palavras que justificam os dois. Nós temos também Mauditânia, como a Oceânia, Lituânia, mas também temos muitas palavras que acabam em sinfonia, tirania e por aí fora. E há que dizer que a nossa língua parece ter uma tendência para... pôr o acento mais no ni do que propriamente neste tipo de palavras, pois é normal que os falantes tenham criado o oceania.
Aqui não estou... Não foi como há pouco em que eu disse assim e acabou. O que eu vos posso dizer é que há de facto estas duas tradições. É uma palavra de dupla prosódia. Tem duas prosódias diferentes. Já não dava uma banda.
Já não dava dupla prosódia, dava só se fosse um... Metafonia dava, esse já não. Eu vou explicar porque é que eu uso oceania. A verdade é que foi assim que eu aprendi na escola primária. Na minha escola, não estou a dizer que era assim de todos, a minha professora ensinou-me oceania e eu fiquei com isto na cabeça. Eu também aprendi oceania.
e por isso... Aliás, nunca tinha pensado sobre isto. Falámos disto há dois episódios, penso eu. Acho que foi no último episódio. Não notaste sequer. E nem notei. Mas pronto, ficam a saber que existe esta guerra, digamos assim, gramatical...
caso não é gramatical, é uma guerra fonética. Eu penso que está perto daquilo que nós já falámos também há não sei quantos episódios relacionada com outra palavra que, confesso, já não lembro qual é que era, mas em que nós temos, digamos, uma versão que está nas críticas...
as pessoas insistem em usar e depois temos a versão que a maior parte dos falantes usa, mas que neste caso até tem uma tradição gramatical por trás a justificar. Portanto, eu vou continuar a dizer a oceania e espero que o nosso ouvinte não se importe. Mas ele pode continuar a dizer a oceania. Depois desta explicação, acho que...
ninguém vai ficar chateado nem a pensar outras coisas. Marco Neves, agora temos aqui um nome que eu vou tentar dizer bem. Vou dizer em inglês, não é? Rachel Barker, vou dizer assim. Mandou-nos um e-mail e pergunta por que razão os objetos inanimados têm... género em português e nas outras línguas latinas e às vezes o género muda de língua latina para língua latina. E a nossa ouvinte até dá um exemplo do mar, que em francês é la mer. Sim, o mar. E eu me...
pergunta muito difícil de responder. Vou ter de simplificar muito aqui a questão. Aliás, há estudos e livros e várias teorias sobre de onde é que vem esta divisão dos seres. Por que razão é que eu tenho aqui uma mesa à minha frente e a mesa é... menino e o microfone é masculino. O que é que tem de masculino no microfone? Não é nada fácil de dizer isto, de explicar isto, mas eu vou tentar o melhor possível. Primeiro...
muitas línguas, não todas, mas muitas línguas dividem os nomes em várias classes. E estas classes não têm de ser os dois géneros que nós temos em português. Por exemplo, dou um exemplo. Algumas línguas africanas dividem em 10 ou mais classes. Clases podem ser, por exemplo, os nomes dos países têm uma determinada forma, um determinado som no início. O nome de objetos inanimados tem outra letra. O nome de pessoas tem outra. Ou seja, eles têm dez ou mais classes. E dividem os nomes...
tem uma certa característica própria da classe e depois tudo o que está à volta tem de concordar com o nome, tal como nós também concordamos os adjetivos com o género. Portanto... É comum haver divisão, não é nada natural, ou seja, não é nada de universal que seja entre feminino e masculino. Isso é uma característica das nossas línguas aqui perto. Agora...
Há línguas que não dividem, que não fazem divisão nenhuma. Todos os nomes são iguais. Por exemplo, o inglês? O inglês é uma língua que está quase lá. Alguns resquícios... Eu hei de chegar ao inglês, mas o inglês tem ainda alguns resquícios de género, mas já perdeu quase tudo.
Os objetos não têm género. Pegando o teu exemplo, a table, a microphone. Exatamente. Portanto, usa-se o mesmo artigo indefinido, ou se fosse o artigo definido seria de, mas não é uma mudança de género, mas só se é definido ou indefinido. Olha.
Portanto, há que dizer também que esta divisão em classes não é estritamente necessária, tal como tu estás a dizer, o inglês não tem. Nós às vezes temos a tendência para achar que as línguas só servem para comunicar e para transmitir informação. Neste caso, é um bom... exemplo, entre muitos outros, que às vezes as línguas têm apenas aquilo que eu podia chamar de forma um pouco informal, tralha.
gramatical. São coisas que vão ficando ao longo da história e que as pessoas aprendem. Seria muito pouco natural que nós não usássemos isto mas não há nenhuma necessidade de comunicação em termos a mesa feminina e o microfone masculino.
Mas deixa-me agora chegar à nossa língua, porque é que nós temos o masculino e o feminino. A nossa língua vem do latim, o latim vem de uma língua mais antiga que nós chamamos proto-indo-europeu e nos primeiros tempos dessa língua, presume-se, quem estuda isto, que havia duas classes de nomes. Ah, que também aparecem em outras línguas, que são os nomes animados e os nomes não animados.
Portanto, havia um género, digamos assim, para mesa, computador, micro... Nessa altura não havia microfone. Nem mesas, provavelmente. Mas, pronto, para pedra, para... Se calhar até para árvore, porque as plantas muitas vezes eram vistas como... animadas. Não se mexia muito. E depois tínhamos o género dos animais e das pessoas. Portanto, os nomes tinham características próprias para isto. O que aconteceu? A classe dos nomes...
como se fosse a dividir ao longo da história em masculino e feminino. Porquê? Porque as pessoas tinham um nome para mulher, tinham um nome para homem, e então esses nomes diferentes, conforme o sexo, começaram a invadir. Começou a haver essa divisão, não é? três géneros, quer o colatinho tinha. O género masculino, o feminino e o neutro.
O neutro é os antigos inanimados e o masculino e o feminino foi a divisão daquele. E isto é o que acontece em muitas línguas indoeuropeias. Nós temos muitas línguas com três géneros. O alemão ainda tem o neutro. Encontramos muitas outras assim. Só que... no latim, entre a passagem do latim para as línguas latinas, aconteceu algo curioso, que foi o neutro desapareceu.
O neutro desapareceu. Então, digamos que os falantes das línguas latinas... E não perguntei porquê que desapareceu. Não há uma explicação. Digamos que o latim foi atrocidade pelos falantes. É o passar do tempo. É o passar do tempo que ele foi desaparecendo. O masculino acabou por absorver... Muitas das palavras tinham o género neutro, mas não foi só o masculino, o feminino também absorveu algumas. Os falantes basicamente foram, às vezes, de forma um pouco...
não diria aleatória, mas de difícil explicação, foram um dos vários objetos nestes dois géneros que se mantiveram. E por isso ficámos com dois géneros, mas continuamos a ter esta obrigação de ter... Um género para cada nome. E por isso todos os objetos têm de o ter. O inglês.
Dizem os especialistas, por causa dos vikings, os inglês também tinham três géneros, neutro, masculino e feminino. O inglês, por causa dos vikings, que aprenderam o inglês, mas tinham outra língua, também germânica, que tinha uma divisão diferente dos objetos, então para não se irritar...
e muito com isso, acabaram por usar sempre o mesmo género para o inglês. Digamos que os vikings foram os culpados de destruir o sistema de género do inglês. Encontramos os culpados. No nosso caso, não sabemos quem é que foi o culpado. Temos só dois géneros, mas pronto.
resposta porque as pessoas... que satisfaça porque as pessoas querem dizer mas quem é que foi o responsável por dizer que a mesa era feminino e o microfone é masculino mas é mesmo daqueles pontos em que a comunidade de falantes foi criando aqui estas divisões e elas existem absolutamente essenciais, nós não conseguimos dizer um nome sem pensar logo se ele é masculino ou feminino e é aquilo que eu posso dizer é aquilo que eu acabei de dizer e já foi uma simplificação muito forte da questão.
até ao final, e vou propor ainda mais uma dúvida, de uma forma rápida, José. Sim, uma dúvida que nos chega por parte da Valéria Pereira, que talvez este ajude Marco Neves por ser mais curta, que é, porquê é que razão se diz tanto em Lisboa, doutor, ouvintes... ouvido. Originalmente, aqui houve duas fases, eu não vou dizer, mais uma vez, quem é que foi o responsável, quem é que foi a pessoa que disse, agora vamos passar a dizer assim, mas houve aqui duas fases. Originalmente era OU.
ou, portanto, doutor que ainda se ouve muito no norte e é como se escreve, exatamente eu digo doutor, eu digo ouvintes mas tu dizes repara, mas já não dizes doutor não, não digo doutor, ou seja, a primeira fase foi uma monotongação, que é um palavrão. Uma quê? Desculpa. Ou seja, nós pegámos num ditongo e tornámos numa só vogal. Portanto, monotongámos. Mais uma que não funciona para a banda.
Os monotongues. Neste caso, seria só um músico. Mas, pronto, o que nós tínhamos era um ditongue antigo, o ou, que se foi, digamos, reduzindo para uma só vocal, que era o...
E em muitas zonas do país, um pouco ao contrário do que nós dizemos, que nós temos a tendência para achar que os portugueses brasileiros estão sempre a dizer disto, que os portugueses fecham muitas vogais, pomos as vogais muito para baixo, neste caso a tendência até é para abrir do O. Portanto, primeiro reduzimos e depois começamos.
quando estamos a falar de forma muito rápida, a dizer ouvinte e doutor e a abrir o O. Podíamos agora ter aqui uma grande conversa sobre os fenómenos fonéticos que levam a este tipo de transformação, mas a única coisa que eu posso responder é que houve estas duas fases e que de facto têm muitas zonas do país. Nós dizemos doutor quando originalmente era doutor.
Ok. Pronto, fica aqui o esclarecimento. Foi um belo episódio de dúvidas. Acho que os nossos ouvintes vão gostar. E, se quiserem, um dia deste, estarem por aqui no episódio de Português Suave, Podem falar com o Marco Neves nas redes sociais, é estrela no TikTok e no Instagram e também através do e-mail portuguesesuave arroba observador.pt sem o acento circunflexo e tanto com o S de português e também com o S de suave. E sempre que tivermos tempo vamos tentando responder.
e se não tivermos tempo, devemos ter... Com a promessa daqui a seis episódios, mais um programa de dúvidas. Será no 24º. Estaremos cá, certamente. Marco Neves, boa semana. Uma boa semana. Voltamos daqui a... 8 dias, não é? Posso dizer isto ou não? Já falamos sobre isto. Olha, já falámos, mas ainda não respondemos. Essa é uma dúvida. Por que é que nós dizemos 8 dias quando na verdade são 7? Então pronto. E isto depende sempre também para quem estiver a ouvir no podcast. Um abraço aos dois.
E até a próxima semana