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António Costa Silva

Nov 29, 20211 hr 37 minSeason 2Ep. 19
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António Costa Silva nasceu em 1952 em Angola, numa terra da província do

Bié chamada Nova Sintra, depois renomeada Catabola. Estudou no Colégio dos

Maristas no Cuíto, em regime interno, e depois na Universidade de Luanda,

Engenharia de Minas. Esses primeiros anos da idade adulta na capital

angolana foram, nas palavras do nosso convidado, “uma revelação”. Integrou o

Círculo Universitário de Cinema e esteve na origem da criação da Associação

de Estudantes, onde desenvolveu dotes de oratória em assembleias com

milhares de pessoas. Referiu em várias entrevistas que, por essa altura, era

um jovem maoista que “queria mudar o mundo”. Por razões políticas, e também

por um enorme equívoco, foi detido em Luanda no dia 22 de Dezembro de

1977, três dias antes do Natal, tornando-se vítima de uma purga levada a cabo

por Agostinho Neto, em resposta à tentativa de golpe de estado de Nito Alves,

em Maio do mesmo ano. Como ele, milhares de pessoas foram vítimas do

ajuste de contas dos dirigentes do MPLA, detidas sem culpa formada ou

julgamento, sujeitas a tortura durante vários anos. Os fuzilamentos sumários

foram outra realidade desse período da história angolana e o nosso convidado

chegou a estar perante um pelotão de fuzilamento por se ter recusado a

assinar uma confissão de que era um agente da CIA, e por ter escrito numa

folha de papel onde lhe pediram para fazer o seu testamento as palavras “a

vida é bela”. Vendaram-no, algemaram-no atrás das costas, e levaram-no para

a praia onde ocorriam os fuzilamentos. Chegou a ouvir o som da culatra, mas

depois, no último momento não dispararam - ainda hoje não sabe porquê. Esta

terá sido a experiência mais traumática dos anos de prisão de António Costa

Silva na prisão de São Paulo, onde viveu também torturas sistemáticas, dia sim

dia não, às quais sobreviveu, e passo a citar, devido ao pensamento: “o

cérebro humano é o instrumento mais poderoso que temos… eu procurava no

meu pensamento reproduzir as leituras, as poesias, os livros de que gostava.

Foi aí que comecei a escrever poesia. Escrevia na minha cabeça porque não

tinha papel nem caneta”, fim de citação.

Terá, então, sido salvo de três anos de escuridão pelo pensamento, e será por

isso que gosta tanto do provérbio angolano que diz “o pirilampo é um animal

sábio porque usa a escuridão para se iluminar”. De resto, assume-se como um

homem que nunca se demitiu de pensar, de dizer o que pensa, e que nunca se

recusou à aventura de viver, mesmo quando essa aventura exige revolver a

terra, ou seja, revolver-se a ele próprio.

Em 2020, foi escolhido por António Costa para desenhar a estratégia

económica de Portugal para a próxima década.

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