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Como as redes sociais viraram consultórios médicos

Apr 11, 202512 min
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Summary

Este episódio do DW Revista explora como as redes sociais se tornaram uma fonte de informação médica, muitas vezes imprecisa e enganosa. O médico Mauro Ferreira discute os desafios enfrentados pelos pacientes e médicos, incluindo a desinformação online, a falta de preparo médico e as complexidades do sistema de saúde. Ele destaca a importância de equilibrar o uso das redes sociais para a conscientização sobre a saúde com os riscos de autodiagnóstico e tratamentos inadequados.

Episode description

Oito em cada dez posts sobre exames de saúde no Instagram e no TikTok são enganosos, segundo um estudo da Universidade de Sidney. Apesar do potencial das redes sociais para conscientizar e apoiar pacientes, o problema surge quando promovem o autodiagnóstico e o excesso de exames. Esse episódio conta com a participação do médico Mauro Ferreira.

Transcript

Oito em cada dez publicações sobre exames de saúde no Instagram e no TikTok são posts enganosos. Essa foi a descoberta de um estudo recente liderado pela Universidade de Sydney. Já se foi o tempo em que o Dr. Google tinha todas as respostas para aquela dor que você começou a sentir em alguma parte do corpo. Agora são os influenciadores digitais que sabem de tudo. que falam quais exames você deveria fazer, quais medicamentos milagrosos tomar.

Não se pode negar a potência das redes sociais na conscientização de diversas questões de saúde. ou para ajudar algumas pessoas a conviverem melhor com certos diagnósticos, por exemplo. Mas a partir do momento em que essa influência desvia para o autodiagnóstico, o excesso de exames e a automedicação, pode ficar perigoso. Afinal, quais são os fatores que levaram as redes sociais a virarem consultórios médicos? Está no ar o DW Revista, o podcast semanal da redação brasileira da DW em Bonn.

na Alemanha. Eu sou Fernanda Azolini e no episódio de hoje eu converso com o médico Mauro Ferreira, que trabalha atualmente como gerente médico sênior de uma empresa farmacêutica e de cuidados da saúde. dicas de saúde enganosas não são uma invenção moderna é claro mas com a internet e as redes sociais elas tomaram uma proporção descontrolada As pessoas às vezes sentem a necessidade de obter diagnósticos para justificar e entender suas vidas.

o que faz com que diversos aspectos do cotidiano passem também a ser diagnosticados, correta ou incorretamente, como sintoma de alguma doença. O que muita gente já sabia agora foi comprovado por uma pesquisa liderada pela Universidade de Sydney e publicada em fevereiro de 2025 no periódico científico JAMA Network Open. O estudo constatou que cerca de 85% das publicações sobre exames médicos no Instagram e no TikTok fornecem orientações médicas falsas, enganosas ou potencialmente prejudiciais.

e que não mencionam danos importantes, como diagnóstico excessivo ou uso exagerado desses testes. Os pesquisadores analisaram quase mil publicações de influenciadores com cerca de 200 milhões de seguidores no Instagram e no TikTok. Desses posts, apenas 15% mencionaram os possíveis danos associados aos exames médicos. quase todos os influenciadores da amostra não tinham o conhecimento médico necessário para fornecer informações precisas.

Apenas 6% das postagens incluíam alguma forma de evidência média. Em vez disso, os influenciadores tenderam a se basear em testemunhos isolados ou em dados escolhidos a dedo para promover testes que podem não ser necessários ou mesmo benéficos. Eu converso agora com o médico Mauro Ferreira. Obrigada por participar do podcast. Mauro, as redes sociais mudaram muito a relação médico-paciente?

Olha, mudaram, mas assim, isso já vinha acontecendo. Antes a gente chamava até o doutor Gugu. A gente discutiu isso muito lá atrás, há alguns anos. O médico tinha que estar preparado para entender esse paciente, para conversar com esse paciente. para mostrar o que era verdade, o que era risco, não era risco. É lógico que com a mídia social, com o Instagram... com esse monte de informação.

que os pacientes estão indo no médico com exame, que eles acham que é importante, ou eles estão seguindo a mídia social como mostra esse estudo. Na última empresa que eu trabalhava, nas últimas empresas, era muito claro isso. paciente ou a pessoa, um colega que trabalha, entra na tua sala, que você é médico lá e fala, olha, doutor, eu vou no médico, mas eu já queria fazer aqueles exames.

Você não pode fazer um pedido para mim? Aí eu brincava e falava, que exames? Aqueles normais. Não tem exames normais. Eu fiz clínica geral e depois eu fiz geriatria. Eu trabalhei até como professor de propedeutica, que é a técnica de fazer exame, de diagnosticar. Classicamente, como é que você faz? O paciente conversa com você, conta o que ele tem. A segunda fase você faz perguntas. A terceira fase você examina. A quarta fase você...

faz hipóteses diagnósticas e você pede exames para confirmar. Então, assim, tem toda uma sequência. no diagnóstico médico. Infelizmente, nem todos os médicos estão preparados para isso ou a consulta não está preparada para isso. Uma consulta de 15 minutos Como é que você consegue conversar com o paciente, fazer empatia?

e ele acreditar em você. Então, isso já vinha acontecendo, é um processo. Então, acaba sendo uma junção de fatores. A facilidade de se obter informações nas redes sociais, junto com questões que englobam o sistema de saúde em si. com uma formação médica em muito risco, vamos chamar assim. Você tem um número de faculdades enorme. As faculdades não têm capacidade técnica.

O número de residência médica é muito menor que o número de faculdades. Tem faculdade que você não tem hospital. Tem toda uma série de coisas que estão sendo discutidas. Então, além de tudo, você tem um médico não preparado.

para discutir com esse paciente. O sistema de saúde está muito complicado, porque você tem... o custo do sistema de saúde que está sempre reclamando, os pacientes envelhecendo cada vez com mais risco de buscar o sistema de saúde, com aparecimento de doenças crônicas, câncer, tudo isso. E além do que esses estímulos para pedir exame, tomar remédio. E assim, o algoritmo é muito esperto, né?

Eu já fiz esse teste. Uma busca sobre alteração de próstata no envelhecimento. Imediatamente você começa a receber no Instagram a quantidade... de posts indicando, mesmo médicos, indicando tratamentos que vão resolver o problema da próstata, que vão melhorar o fluxo urinário. Então aí você começa a ver... oferecendo as coisas mais fitoterápicas.

O que isso causa? Além de ter um efeito discutível, se a pessoa tem um problema na próstata, o ideal é ir no urologista. Porque se for um câncer, esses riscos... nous apparaît, si la média sociale nous apparaît. Aparece assim, vou te vender uma solução. Se você está com problema urinário, você toma tal remedinho que vai resolver. Pode comprar por aqui, aqui já tem um link.

do vídeo e tal. Publicações duvidosas por parte de médicos também. Por parte de médicos. A maioria desses posts de urologia é médico. Como não tem residência suficiente, tem surgido uma... Vamos chamar de pseudo-especialidades. São especialidades que você faz online e se diz especialista em várias áreas. Isso é uma discussão que o conselho está discutindo, tem saído na imprensa aqui no Brasil. Veja, você paga 10 mil reais de faculdade por mês.

São 120 mil reais por ano, em seis anos, quanto você paga? Como é que se recupera isso? Aí você precisa recuperar. Aí você dá plantão, teoricamente você ganha razoavelmente bem, entre aspas. E aí você começa, se descobre... Mídia social, que eu posso vender serviço, posso vender produto. Eu recebo no próprio LinkedIn, às vezes, cursos de médicos orientando, formando-os a trabalhar com mídia social para aumentar.

a frequência no seu consultório, se vai começar a ter mil consultas por mês. Como melhorar o teu consultório? Como melhorar a frequência? o número de pacientes, o número de atendimentos. Se você abre mídia social, você vê médico vendendo coisas, profissional de saúde vendendo coisas, e você vê um monte de gente que é só influencer também vendendo coisas para a saúde. vitaminas, tipos de exercício, exames. Um daqueles exames que o estudo avaliou Foi exame de dosagem de testosterona, né?

Veja, você pegar simplesmente uma dosagem de testosterona e resolver que você vai tomar testosterona ou não tomar testosterona, é um absurdo. É um risco enorme, a gente tem visto, tem morrido alguns atletas aí. em academias por excesso, possivelmente, de testosterona. Então, se a testosterona tem indicação, tem indicação. Você precisa ir num especialista, avaliar toda a sua avaliação física e a testosterona vai ter um... Mas ela sozinha não vai resolver nada.

Outro exemplo também citado pelo estudo é o da celebridade Kim Kardashian. Em 2023, ela incentivou seus mais de 360 milhões de seguidores a se submeterem a uma ressonância magnética de corpo inteiro. O exame consiste em ficar imóvel por cerca de uma hora numa maca longa e estreita que desliza para dentro de uma máquina cilíndrica que capta imagens detalhadas de órgãos, articulações e tecidos.

A Kardashian falou que era uma máquina salva-vidas por seu poder de detectar sinais precoces de doenças como câncer. De acordo com o artigo, há evidências cada vez mais claras de que testes de detecção precoce são facas de dois gumes, podem salvar vidas, mas também trazer diagnósticos desnecessários. A principal preocupação com esses exames é que eles têm a capacidade de detectar condições que não levam necessariamente a uma doença.

Para os pesquisadores, o diagnóstico excessivo também desvia recursos do combate a doenças que são subdiagnosticados ou subtratados. É claro que dá para encontrar informações confiáveis sobre saúde na internet, mas na prática, aquele vídeo de um minuto de um influenciador carismático e convincente acaba sendo muito mais acessível e fácil de ser aceito como verdade absoluta. Está muito complexo, sabe? Está muito complexo. E a mídia social tem as coisas boas, o que você pode falar.

A importância da vacina, que agora está na fase de vacinação, o que você tem que se preparar para avaliar a partir de tal idade o risco de câncer de mama ou de câncer de próstata. no envelhecimento tem uma série de pontos importantes, então tem esse valor. usar a mídia social para dar informação mais real para os pacientes. Sempre quem usa melhor hoje a mídia social causa muito problema. E as pessoas que talvez pudessem usar de maneira melhor não sabem usar, ou não se preocupem usar.

Acho que isso é um desequilíbrio que a gente vai ter que organizar isso. Meu muito obrigada ao médico Mauro Ferreira pela conversa e a edição do DW Revista fica por aqui. Deixe nos comentários a sua opinião sobre esse tema e sobre esse episódio. Para mais conteúdo, acesse o nosso site www.adw.com.br e também o canal da DW Brasil no YouTube. A produção e a apresentação deste episódio são minhas Fernanda Zolini, a revisão final é de Erika Cocay e a coordenação é de Luisa Frey.

O DW Revista volta na sexta-feira que vem. Obrigada por acompanhar a gente e um bom final de semana.

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