Sem-vergonhismo - podcast episode cover

Sem-vergonhismo

Apr 15, 20251 hr 22 min
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Summary

Neste episódio, Alessandra Orofino, Bruno Torturra e Gregorio Duvivier exploram como a cultura da marca pessoal e a falta de vergonha na publicidade criaram uma distopia cotidiana, analisando a ascensão de figuras como Trump e Virginia. A discussão aborda a perda de confiança nas instituições, a manipulação da fé e da boa fé, e a banalização da corrupção, destacando a necessidade de expandir a concepção de corrupção para além do crime tipificado. Eles também refletem sobre a influência da publicidade na política e na sociedade, e a dificuldade de manter uma relação autêntica com o público.

Episode description

Como a cultura da marca pessoal e falta de pudor publicitário criou a distopia do dia-a-dia.


Com Alessandra Orofino, Bruno Torturra e Gregorio Duvivier


Dicas de leitura

O VENDIDO, Paul Beatty

A SABEDORIA DAS CORUJAS, Jennifer Ackerman

THE GOLDEN PASSPORT, Duff McDonald

OS MONSTROS DE HITLER, Eric Kurlander

Transcript

Olá, bom dia, boa tarde, boa noite, querido ouvinte ou espectador. do nosso Calma Urgente. Bem-vindos, Alessandro Rofino e Bruno Torturra. Oi, pessoal. Oi, Greg. Oi, Alê. Oi, turma. Hoje é segunda-feira, 14 de abril de 2025. E seguimos sequestrados, né? Por enquanto. Termos que é esse. Sequestrados, meu Deus.

por um assunto que vocês já devem saber qual é. Que é o assunto tarifaço. É, para. É o assunto... Mas é, gente. O Trump consegue... É o assunto Trump, louco. É o assunto... O cara consegue realmente dominar... alugar um triplex nas nossas mentes, produzir um termo, um chavão novo da internet que já tá me irritando, tá meio gasto já.

Alugou um triplex, mas ele consegue, gente. Ele alugou um triplex na cabeça do mundo inteiro. Uma Trump Tower na cabeça do mundo inteiro. Exatamente. Um mar a lago inteiro. É banhado a ouro. A ouro. Fake. Exatamente. Com todo mundo olhando e falando assim. Por quê? Pra quê? Pra onde? Ele sabe o que tá fazendo, não tem como saber. São perguntas... que são da ordem do, assim... da perplexidade com o absurdo, ou tão burro que age, às vezes, com uma aleatoriedade surpreendente.

E acho que a gente já falou muito sobre os motivos. O último episódio foi meio sobre os motivos dessa jossa, desse pacotão. Mas acho que hoje seria legal a gente falar...

Não das consequências possíveis. Vai ser um monte de especulação de economista. A verdade é que ninguém sabe. Todos estão chutando coisas. Se ele vai voltar atrás de tudo. Se vai voltar atrás só de algumas coisas. Se vai ficar só para a China. Isso daí é... Não é que seja irrelevante, só que é impossível mesmo, não vai entrar nesse jogo e nem tem capacidade, eu diria, pra...

para entrar pelo menos no meu caso, a gente vai sobretudo falar, eu acho que, de cultura, que acho que é no fundo o assunto principal desse programa. Como dizia Zé Paulo Neto, o... comunista, o marxismo, como é que é? Ele tem um texto bom, tá viralizando inclusive, um texto não, uma fala dele boa. A política é o caminho, a cultura é o fim. Diz ele citando Lukács.

que era o grande ídolo dele, né? E ele tinha isso dizendo que a cultura é o objetivo final da transformação, no fundo. Então, que cultura é essa que permite ao Trump esse tarifácio, aplaude muitas vezes? E o que está acontecendo com esse país, esses Estados Unidos? Esse país sem nome, como dizer o Caetano, que a primeira vez me apontou pra isso, eu falei, é verdade, o Caetano fala Estados Unidos da América é um país sem nome. Isso não é um nome. O Brasil também, os Estados Unidos...

São os Estados Unidos da América. O Brasil, os Estados Unidos da América. O México, os Estados Unidos da América. O Canadá. Tudo é Estados Unidos da América. Não quer dizer nada de Estados Unidos da América. É uma abstração, sim. Pois é. Mas, dito isso, que esse país sem nome, como é que ele permitiu e aplaude isso?

O Jon Stewart, no seu programa, que eu recomendo, aliás, talvez o melhor programa sobre tarifas, foi o Jon Stewart no Daily Show. Ele faz um compilado delicioso de assistir de comentaristas financeiros na Fox News e em canais de extrema direita. dizendo sobre as tarifas e sobre o fato de que o mercado desabou, dizendo basicamente que dinheiro não importa tanto assim. Falando assim, eu perdi dinheiro, sim, agora. Muito dinheiro. Mas o que é dinheiro também?

O que é? Qual a importância de dinheiro? Hein? Não é, dinheiro é um papel, é uma coisa que vai e volta. Então ele conseguiu fazer com que investidores praticassem o desapego e aplaudissem o seu empobrecimento. Ele conseguiu uma proeza. mesmo que no país mais capitalista do mundo, no epicentro do capitalismo, em que só importa o dinheiro no bolso. pessoas dissessem assim, de repente o dinheiro não é tão importante assim. Eles preferiram dizer isso a dar o braço a torcer.

É claro que tem gente também que deu o braço torcer e falou assim, meu Deus, como é que pode uma coisa dessas? Isso é gente muito imbecil, muito idiota de ter em algum momento acreditado. que o Trump ia fazer algo diferente de seguir os seus instintos completamente sociopatas e arbitrários.

Mas, Bruno, eu queria que você começasse falando algo que você me falou de relance antes da gente começar aqui o programa. O Bukele está na Casa Branca e já falou alguma coisa de... Ele falou algo em relação aos presidiários. Como é que está esse encontro aí na Casa Branca? Especificamente um presidiário chamado Albergo Garcia. Que... Albergo? Abrego Garcia. Um dos homens, das centenas de homens que o Trump despachou.

pra El Salvador, por fora de qualquer rito mínimo de um processo legal devido. Ele simplesmente pegou os caras, enfiou num avião. E dentro do avião já não aceitou uma ordem de um juiz que mandou o avião voltar. para que essas pessoas tivessem minimamente o direito ao devido processo, ou pelo menos o Estado, o resto do sistema é judicial, sabe pelo menos o nome dessas pessoas.

E ao longo das semanas a gente foi sabendo que as famílias não foram avisadas. Muitas pessoas viram os seus aparentes que foram presos. simplesmente numa foto que o Bukele postou. O Bukele, presidente de El Salvador, o cara quem o Trump contratou para receber esses presos. numa das prisões mais infames do mundo. que o Bukele construiu durante o seu mandato, que é chamada por qualquer organização dos direitos e-humanos do mundo.

e pelo jornalismo de El Salvador, de uma masmorra, um centro de tortura, onde as pessoas não saem, não têm acesso a advogado, não têm direito a ver a família, não têm direito a existir. fora do controle extremamente violento daquele estado. No envio dessas pessoas... Tiveram duas pessoas que foram particularmente famosas nos Estados Unidos, que representam erros crassos de ter enviado pessoas.

simplesmente com base em perfil racial ou em tatuagens que eles poderiam ter. E de acordo com essas tatuagens, eles assumiram que essas pessoas eram membros de duas gangues, do MS-13 ou do trem de Arágua. Resumindo, a Suprema Corte dos Estados Unidos, por unanimidade, o que é um milagre numa corte tão politizada,

sendo que três dos nove juízes foi o Trump que indicou. Então, por unanimidade, eles falaram que o Trump precisava trazer esse cara de volta para ser julgado nos Estados Unidos e poder se rever com a sua família e tudo mais. deveria fazer esforços para que ele fosse trazido de volta. O Trump hoje recebe o Bukele na Casa Branca e na Casa Branca o Bukele fala, ele está lá no minuto que eu estou falando, disse que é impensável devolver esse preso.

Então, na Casa Branca, ao lado do Donald Trump, e isso é a grande ironia, para se submeter ao Donald Trump, o que ele faz é, nos Estados Unidos... falar que é inconcebível ele cumprir uma ordem da Suprema Corte. E lembrando que eles não são presos de El Salvador. Eles não são membros procurados pelo regime de El Salvador. Eles estão simplesmente em uma prisão que o Trump alugou por 6 milhões de dólares ao ano. pra que esses caras ficassem num centro de tortura.

Então, isso está acontecendo nesse minuto, mais uma das aspirações para além de tarifa do Donald Trump, que eu acho que é um grande assunto que põe a economia mundial perplexa e num lugar instável. Mas enquanto o caos reina na nossa economia, tem uma coisa que não é caótica, que é extremamente dirigida, clara, que ele não volta atrás, que ele é decisivo, que ele fala e faz. no atropelo do sistema legal dos Estados Unidos.

e nessa vontade monárquica dele de ser juiz, júri, executor, âncora de TV e por aí vai. É, e é curiosa essa relação específica com o Bukele.

E esse embrólio que se criou entre a Suprema Corte dos Estados Unidos, entre o sistema judicial e a administração do Trump em relação a esse preso em específico, ela é interessante porque ele está jogando com o fato do judiciário americano não ter jurisdição sobre El Salvador, evidentemente, trata-se do judiciário de outro país, mas ele joga com isso ao mesmo tempo que ele faz questão de deixar claro

que quando o Bukele se recusa a retornar e ser prisioneiro para os Estados Unidos, isso é combinado, é uma demanda do próprio Trump, porque o Bukele vai falar isso numa conferência de imprensa sentado do lado do Trump. Evidente que se o Trump estivesse pressionando o Bukele a fazer esse retorno, ele faria. Ele tem todos os canais diplomáticos. É só pedir. É só mandar um WhatsApp. Eu diria até que é o contrário, gente. É só não pedir.

Que ele não deporte. Entende? Porque se ele não falasse nada, o cara ia deportar de volta. O ponto aqui é só. Ele tá fazendo uma jogada que é muito cínica. Quer falar, olha, você, judiciário, não tem jurisdição sobre isso aqui. Eu, como presidente, também não vou mover uma palha para fazer cumprir essa decisão de boa fé, apesar da falta de jurisdição, ele poderia agir de boa fé.

é uma demonstração do cinismo, é uma demonstração de má-fé, mas é sobretudo uma demonstração de que ele está em guerra aberta com o judiciário e disposto a encontrar formas cada vez mais esdrúxulas para escapar desse controle judicial o que eu acho que isso acaba gerando e é uma reação parecida com a reação do mundo no caso das tarifas é uma certa transferência

da confiança que um dia existiu por parte da comunidade internacional, certamente por parte do mercado financeiro, nos Estados Unidos como um lugar... de rule of law, devido ao processo legal, um lugar relativamente estável para você ter propriedade, para você investir, o dólar como uma moeda estável para você usar como reserva e assim por diante.

E ele quer transferir essa confiança do país pra ele, Donald Trump. Eu até falei aqui no nosso último programa que o dólar tinha perdido valor e que com isso... a pressão inflacionária das tarifas ia ser ainda maior, e muita gente depois fez comentários falando, não, mas o dólar aumentou essa semana. Gente, aumentou em relação ao real. O dólar... A má notícia é que o dólar está perdendo valor esse ano em relação a praticamente todas as moedas.

Inclusive, esse ano, ele perdeu também em relação ao real, em relação ao que ele tava no finalzinho ali do ano passado, quando ele chegou a bater em 6,30, eu acho. Mas tá sendo um ano muito ruim pro dólar. Desde que o Trump tomou posse, a moeda tá perdendo valor.

e tá vendo uma fuga de investidores dos Estados Unidos, inclusive daquele tipo de investimento em títulos do Tesouro Americano, aqueles instrumentos de investimento bem de quem está querendo fazer um investimento conservador, seguro, que tem certeza que se paga. Isso é um sinal, apenas um, mas é um sinal de uma certa quebra de confiança no país, nas instituições do país.

A minha sensação é que o Trump faz isso de propósito. Ele não quer que as pessoas confiem nas instituições, porque se as instituições americanas não puderem garantir nada, o único garantidor é ele. E aí, pra você poder fazer com que ele garanta, você precisa pagar. Você precisa passar por ele.

então ele vai lá e cria um pacote de tarifas insustentável para parte da indústria americana todas as indústrias que dependem da importação de seus produtos, mesmo que eles sejam desenhados nos Estados Unidos, e o maior exemplo, a maior empresa, nesse caso, é a Apple, que tem o seu parque industrial praticamente inteiro na China, todas essas empresas...

quebrariam, essencialmente, se esse pacote fosse sustentado. Ele anuncia esse pacote, então ele quebra a confiança nos Estados Unidos, dali a três dias ele vai e fala Ah, não, mas para smartphones não vai ter tarifa. E a dúvida é quanto que a Apple vai ter que pagar por essa isenção. Porque é óbvio, é óbvio que tem um preço.

E ele nem faz questão de esconder o preço. Ele é explícito em relação a esse tipo de gatekeeping, né? Você tem que passar por mim. É máfia, não é mais governo. É um mafioso que trabalha a partir de uma lógica mafiosa nesse lugar. Então é uma situação realmente muito especial. E eu acho que esse jogo com o Bukele faz parte da implantação dessa lógica de máfia. Ele precisa que o judiciário seja desacreditado. Ele precisa que as instituições americanas como um todo sejam desacreditadas.

A única lei precisa ser ele, porque só assim ele pode cobrar mais caro por exercer essa função. Perfeito. Cara, isso da Apple é uma loucura realmente. Mostra que... Não tem realmente nenhum fundamento econômico, não tem um fundamento estratégico, não. É a lei mesmo de proximidade. Virou uma espécie de passargada. Lá, seu amigo do rei... em que quem está próximo dele ganha dinheiro, quem não está não ganha. Acho que foi o Bruno que me contou, eu não vi esse vídeo, do cara que ele fez a...

Ele estava com um investidor, passou a tarde com um investidor. Como é que é o nome dele? Conta a história, o que aconteceu exatamente? Então, na sexta, se eu não me engano, ou na quinta, foi no dia que o Trump deu uma pausa nas tarifas. unificou todas as tarifas a 10% para o mundo todo e falou, mas para a China vai ser 145%.

Esse é o capricho dele da semana passada. No dia que ele fez isso, ele fez isso no final do... é pregão quase, era a tarde dos Estados Unidos, então Wall Street estava a fechar em duas ou três horas. E o Donald Trump botou um tweet na plataforma dele, no Truth Social, falando assim, calmem, agora é hora de comprar. Comprem. Acreditem em mim. Donald J é Trump. Assinou Donald Trump, não sei o que.

E o que aconteceu foi que uma hora depois dele ter tweetado isso, ele anunciou a pausa nas tarifas, então aquele caos ficou muito mais simples. E aí o que aconteceu? A bolsa disparou. Disparou vertiginosamente para cima, de maneira muito desproporcional, só para se corrigir em relação às perdas que teve nos últimos quatro, cinco dias. E o que aconteceu? Nesses minutos... Nesse intervalo curtíssimo de tempo, alguns investidores ganharam fortunas.

não só porque eles compraram ações em baixo, mas principalmente porque eles apostaram altíssimo, um investimento de altíssimo risco, diga-se de passagem, uma aposta que se você perde, você perde tudo e não 10%. Eles apostaram altíssimo de que naquele dia a bolsa ainda ia disparar. Então isso é um indício muito claro de informação privilegiada, especialmente em uma casa branca.

que é completamente permeável desse tipo de informação privilegiada, que é cheio de bilionário nas suas relações internas. que vaza coisa no signo o tempo inteiro e que jogou esse ano várias vezes com vantagens financeiras, com a meme coin que o Trump lança e tal. E aí algumas pessoas ficaram riquíssimas. que já eram muito ricas, eles faturaram altíssimo com essa aposta.

Quando ele anunciou que as tarefas tinham dado uma pausa, ele estava na Casa Branca, a imprensa foi chamada na sala dele e ele aponta para um cara que estava com ele na Casa Branca fazendo o que ninguém sabe. que é um mega investidor de Wall Street, o Charles Schwab. Dono de uma das maiores corretoras, fundos de investimento e tal. Ele aponta para o cara e fala, ele hoje faturou 2 bilhões e meio de dólares. Aponta para o cara que deve ter já uns 150.

Aponta pra ele. Fatorou como? O cara tá na sala. Entendeu? Então, assim, a gente tá nessa situação que a Alessandra definiu bem, que eu acho que é uma mentalidade de gangster mesmo. É uma coisa assim, o poder é ele. E mais do que desacreditar as próprias instituições, eu acho que ele faz uma coisa ainda além e mais séria. Que não é desacreditar, é meio provar que as instituições não têm poder de enforcement. Então se a Suprema Corte manda ele fazer uma coisa e ele não faz...

Ela não tem um poder de polícia. Então vamos mandar os nossos agentes da Suprema Corte com armas para pegar ele, algemar, enfiar no camburão. Entendeu? Ele meio mostra uma coisa que a gente sabe. Mas quando ele abusa disso, fica muito claro não só o quão frágil é, mas que a democracia republicana tem uma base que ele não tem, que é vergonha. Então, se você perde a vergonha, a autocontenção... se você não aceita essas regras. mesmo que a cadeia não esteja à vista,

que não tenha uma multa, que não tenha repressão, você tem poder absoluto. Se você tiver algum tipo de respaldo popular e um partido capitulado como ele foi capaz de fazer em menos... De 10 anos. Mas o que eu acho interessante da gente pensar, que você falou antes, que tipo de ambiente, que tipo de cultura faz com que as pessoas batam palma?

Eu acho que a pergunta mais tensa não é essa. Porque a mentalidade fascista a gente conhece do eleitor fascista, da população. A que eu acho mais interessante é qual é a cultura que não tem remédio pra esse tipo de coisa. Qual o tipo de cultura que fica perdida e não sabe o que fazer se a vergonha não é mais um antídoto para esse tipo de coisa? E essa cultura está totalmente paralisada.

diante do Donald Trump, eu acho. Pois é, você falou um negócio muito central que é a vergonha, que eu acho que é uma palavra que é... muito usada, a vergonha é muito central, eu acho, na nossa sociedade, com razão, porque eu acho que existe uma função política da vergonha muito forte. Quem falou isso muito bem é o Frederic Gros, um cara muito legal, um professor.

francês, que tem um livro que, se eu não me engano, chama A Vergonha é um Ato Revolucionário. É um nome, assim, não sei exatamente isso. Mas, enfim, é um cara espetacular. E ele tira essa citação... do... Vergonha é um sentimento revolucionário. Do Marx, tá? De algum texto do Marx. Essa ideia de que a vergonha é um sentimento revolucionário de que... As revoluções têm muito a ver com o fato de ter uma grande mudança em relação ao sentimento de vergonha.

Então o pobre tinha vergonha de ser pobre até o momento em que ele conseguiu mudar essa vergonha, para usar o exemplo da França, da evolução francesa, para os nobres e de repente passou a ser uma vergonha. E o rei da França, olha que vergonha, pior talvez do que... A decapitação é o fato do rei da França, ele tentou fugir da França fantasiado de mulher, imagina isso na época. E ele foi flagrado com uma peruca e um vestido, Luiz XVI. Tá tentando fugir fantasiado.

Então, esse envergonhamento do rei de fazer, ele tem que se fantasiar, tem que se esconder, tem que fingir que não é rei. E depois, ao longo da evolução francesa, todos os nobres fingindo que eram plebeus, para você conseguir mudar. O alvo da vergonha é, no fundo, a maior operação política que você pode fazer. E sempre se usou muito a vergonha nas revoluções. Ela sempre foi o material primeiro mesmo, primordial. Mais do que o ódio, mais de qualquer coisa, sempre foi a vergonha.

Do que é que se deve sentir vergonha e fazer com que os políticos se envergonhem? sempre foi uma arma revolucionária. E eu acho que foi precisamente isso que acabou nos últimos anos, com o surgimento dessa extrema-direita, que é desavergonhada. Tem uma expressão que a gente usa muito no Brasil, que é sem vergonha. E a gente sempre usou como um xingamento. E eu acho isso maravilhoso. O fato de que não tem nada pior do que você ser um sem vergonha.

Que a pessoa que é sem vergonha, ela é inimputável. Ela não tem caráter, né? É, no Brasil a gente equivale vergonha e caráter. dizer que alguém é sem vergonha equivale a dizer que a pessoa é mau caráter. Por isso que a gente xingasseu sem vergonha. Ficou de sem vergonha. Porque esses políticos são sem vergonha. Não o Boris Casoy, no Brasil, bombou com um bordão. É uma vergonha. A gente cresceu vendo aquilo ali. Era o auge da politização. Isso é uma vergonha. Ele falava assim com a boca.

Isto é uma vergonha. No SBT. Que em si tem uma ironia não muito observada. Era no mesmo canal que tava tendo luta no gel. E mulheres brigando por um sabão dentro de uma banheira. Mas tudo bem, vamos pular essa parte. Isso é uma vergonha. Na sequência, topa tudo por dinheiro. Exatamente. Mas, dito isso, eu acho que os políticos, essa nova geração extrema-direita, ela é... Inenvergonhável. A vergonha não cola, não cola nela.

E isso faz com que as ferramentas que se tinha para mobilizar e até para enfraquecer também um governo autoritário, elas não têm o mesmo efeito que o humor. que antes era algo que os políticos temiam, eu tenho a impressão de que não temem mais. Não, sabe? Não acho que o Trump... Aliás, um vídeo que me causou nojo físico. Foi o vídeo do Bill Maher, que é um comentarista político americano. supostamente de esquerda, não é de esquerda há muito tempo, mas para os Estados Unidos ele é de esquerda.

O único lugar no mundo em que um cara comece à esquerda. Pro-Israel, hoje, tá? Concordo com o Trump em relação à Gaza, pra você ter uma ideia. Ele é pró... Vai dizendo tudo que no mundo inteiro é direita, que é direita, para ele, nos Estados Unidos, ele é progressista. Por quê? sei lá, talvez seja a favor do aborto, mas é aquele cara ultra libertário. E o Bill Maher foi convidado pra jantar com o Trump e foi jantar e voltou dizendo no programa dele que ele é um homem gentilíssimo.

escuta, olha você no olho, ele é incrível. Então, você tem hoje uma cultura também que o humor... e no caso desse humor, sobretudo americano do humorismo, rapidamente também muda, e não é o caso do John Stewart, tá? Nem do John Oliver, mas de modo geral, você tem um sistema que se vende muito barato. E aliás, tem uma palavra em inglês que eu adoro que é sell out.

Sellout é difícil de traduzir, né? Vendido. Vendido. É o vendido. Não é que vendido... É o vendido. Você tem razão. É o vendido. Se vendeu. É porque vendido no Brasil é a mesma palavra pra... Ah, isso daqui tá vendido. Esse livro foi vendido. Entendeu? É que é diferente falar um vendido, né? Um vendido é um sell-out. Um vendido como um adjetivo humano. Uma pessoa vendida é isso, é o sell-out. Que é uma coisa que era um grande estigma nos anos 80 e 90.

E até 2000. Tu ser um vendido era uma vergonha. Tanto é que é isso, basicamente, que da Dolabella xinga o João Gordo de ser quando vai e bate uma machadinha na mesa dele. O que ele fala é que ele é um vendido. Fala assim, você traiu o movimento punk, você é um vendido. Porque era um xingamento naquela época, na nossa juventude. As bandas, as bandas cool... Não faziam publicidade. Não existia a possibilidade de uma banda cool, maneira... Fazer publicidade. Era uma coisa assim... Jamais!

Atores e atrizes também não, né? Todo o plot de Lost in Translation É um ator, enfim, de carreira indo pra Tóquio pra fazer publicidade, porque era muita vergonha fazer esse tipo de publicidade meio trash nos Estados Unidos. Os atores tinham que ir pra Tóquio pra passar vergonha, pra não passar vergonha nos Estados Unidos. Hoje em dia eles fazem no próprio Instagram.

Tem uma cultura, e se você for ver, isso eu acho muito louco, a pessoa fazendo publicidade, eu não criminalizo, obviamente, atores e comediantes que fazem publicidade, não, pelo amor de Deus, acho que é uma maneira da pessoa ganhar a vida, mas... Eu acho muito louco só os comentários festejando a publicidade do artista. Porque antigamente se falava, porra, se vendeu. Era o que se dizia no comentário. Pô, acho que nem tinha comentário, mas era o que se comentava.

Pô, o cara, você viu, quem diria ele fazendo publicidade? Hoje em dia é. Ai, foda! Porque a publicidade, ela passa a ser um chancelamento. O fato da marca estar patrocinando o artista significa o contrário do que você vendeu. Significa assim, venceu na vida. Tu, pô, tá muito bem, cara.

arrasou, porque agora as marcas estão fechando contigo. E tem uma coisa que, por um lado, é fofa do cara que está torcendo pelo artista, ele está feliz, ele está ganhando dinheiro, mas, por outro lado, mostra também que, realmente... O capitalismo venceu, porque o que chancela um artista é a publicidade. Então a publicidade deixa de ser uma maneira do artista ganhar um dinheiro. Ela passa a ser...

Uma chancela para o artista de qualidade. Quem diz se um artista é bom ou ruim é o Itaú ou até o Tigrinho. Isso é a parte mais louca. Você tem artistas que estão vendendo, inclusive, a sua credibilidade. Porque é isso que um artista vende quando ele faz publicidade. Ele está vendendo...

a sua credibilidade. Ele tá vendendo, na verdade, o carinho que os fãs têm por ele. Ele tá pegando esse carinho, tá monetizando isso e tá vendendo pra algum produto, pra alguma marca. Tá transferindo pra alguma marca, é. Isso. Tá falando assim, olha, esse carinho que vocês têm por mim aqui, eu vou vender pra essa marca aqui, pra vocês.

Compararem com ela. Quando eles fazem isso com o Tigrinho, por exemplo, quando uma pessoa que aí não é artista, tá? Pelo amor de Deus. Mas Virginia Fonseca lá vende pro Tigrinho com uma parte, inclusive, do lucro. Ela ganha... Das perdas dos seguidores. Das perdas dos seguidores. Ela ganha 30% do que os seguidores perdem. Quando a pessoa faz isso, era pra mim pra ter piquete e, sei lá, na porta da casa dela.

Os fãs descobriram isso, meio que faz parte. Quem gosta dela, meio que gosta disso. Cara, ela é muito malandra mesmo. Porque tem uma cultura de que mudou um pouco o status e o envergonhamento. Não é mais vergonha você queira ganhar dinheiro em cima de... Inclusive dos seus fãs, inclusive dos seus amigos, inclusive dos seus parceiros. Não é mais vergonha. Inclusive dos seus eleitores. Que é exatamente a operação que o Trump, que o Milley fez quando ele resolveu anunciar uma criptomoeda.

Que era basicamente um esquema pra roubar quem admirava ele. Então, eu achei maravilhoso você trazer a Virginia, Greg. Porque eu sou obcecada com essa história. Com a Virginia? Uma história bizarra. Não, eu acho inacreditável. Essa reportagem da Piauí, acho que foi a terceira vez que a gente comenta lá aqui no Calma Urgente. Se você não leu... Você pare o que você está fazendo agora. A gente vai deixar o link pra vocês.

Não, não para não, mas depois quer acabar. Alessandra, você é uma péssima influência. Não pode falar para a pessoa parar de ver. Tá bom, depois que você der o like... Que você apertar o sininho. Aí sim. E entrar no Clube do Livro do Como Gente. A gente não tá aceitando o membro agora. A gente não é bom de publica. E compra a nossa criptomoeda também. Depois que você der o like, apertar o sininho e deixar seu comentário pra gerar engajamento.

Aí você para tudo que você estiver fazendo e você vai lá na Piauí ler a matéria que a Piauí fez sobre o cachê da desgraça. e os influencers que assinaram contratos milionários com empresas de aposta online, com as batchs, com cachês milionários anuais, mas em alguns casos também com esse dispositivo contratual.

que previa basicamente uma comissão para o influencer de parte do que seus seguidores perdiam quando eles clicavam no link e começavam a postar. Um terço, 30%. A Virginia foi uma das influencers que assinaram esse tipo de... de contrato, e é isso, ela postava a propaganda da Beth, quem clicasse no link que ela postou e perdesse dinheiro, 30% dessas perdas voltavam para ela.

E ela não comentou pra reportagem. E isso foi um pouco comentado, mas meio que ficou por aí. E é isso, isso era pra ter causado o fim do Império Virgínia. E se você não sabe quem é a Virgínia, que bom pra você, amigo. Mas enfim, ela é só uma influencer muito grande. Ela é famosa por ser famosa. Até onde eu entendo, não tem nenhum outro tipo de serviços prestados à humanidade.

que justifique a fama. Mas o ponto aqui, que acho que é a conexão entre Trump e Virginia, entre Trump, Virginia e Milley, entre todas essas figuras, é que existe uma cultura... que torna, não só possível, mas desejável, você se vender, literalmente, o que você está vendendo não é mais nem o seu alcance, o seu nome, mas é a sua marca pessoal, é você como pessoa, você se transformar em marca.

Que, aliás, a Naomi Klein fala muito bem disso no primeiríssimo livro que bombou dela, né? Que é o No Logo, em que ela já começa a apontar pra esse movimento das pessoas se tornando suas próprias marcas. Mas pra além disso, acho que o passo que vai logo na sequência, quando o envergonhamento, ele deixa de ser uma estratégia efetiva, né, no fundo, de manutenção de um mínimo de bom senso, de decoro,

nesse tipo de endosso, né? Você como artista, você não vai endossar uma marca horrorosa, uma coisa que você sabe que é golpe, uma coisa que você sabe que é ruim, que é de má qualidade, que você não usaria, etc. O próximo passo, depois do envergonhamento parar de funcionar, pra evitar isso... É o envergonhamento parar de funcionar para evitar coisas mais sérias.

como a extração mesmo de valor diretamente da sua base de fãs, da sua comunidade, as pessoas que confiam em você, que te admiram. É deles que você vai roubar literalmente. Não literalmente, mas figurativamente. E isso serve para a Virginia como serve para o Trump.

É muito doido que o Trump, presidente eleito com aqueles eleitores, basicamente cria um pacote tarifário que vai afetar todos os fundos de pensão, que vai deixar todo mundo mais empobrecido, pessoas que votaram nele, que acreditavam nele. e que no final ele vai fazer uma reversão dessa política sem muito aviso prévio, que vai beneficiar meia dúzia de bilionários que provavelmente tiveram, no pior dos casos,

informação privilegiada mesmo, receberam um telefonema e alguém avisou, ó, vai reverter. Mas no melhor dos casos, são investidores muito sofisticados que vão saber ler os sinais do mercado muito melhor do que o cidadão comum que está lá com a sua aposentadoria aplicada em ação na bolsa, ou com o seu fundo de pensão aplicado. que esse cara não consegue correr atrás desse tipo de informação. Então, ele faz uma manipulação de mercado gigantesca.

Que vai, basicamente, pilhar a população que votou nele. E tudo bem. E meio que tudo bem. Ele não tá tendo uma perda de popularidade condizente com o tamanho do absurdo. Assim como a Virginia não deixou de ter milhões de seguidores e de vender, sei lá o que mais que ela vende, além de bem. Então, é uma loucura. Mas essa é a cultura. E em alguma medida, o Trump foi o primeiro sell-out. Ele foi muito pioneiro em vender a marca pessoal dele.

E licenciar pra botar em um monte de coisa, né, Bruno? Você é obcecado com esse momento meio licenciamento da marca Trump nos anos 90. Fala um pouquinho. É... Trump steak, né? O maluco fez até bife. Já nos anos 80, né? O Trump, eu acho isso mesmo, que ele é o representante maior da cultura do vendido. E eu acho que, por exemplo, o Trump, ele é considerado, ele se vende...

como um empresário, como um bilionário self-made man que fez não sei o quê. Mas se você for olhar a trajetória real, biográfica dele, ele não teve muitas empresas. O que ele faz é associar a marca dele, o nome dele, em letras garrafais. e douradas, sempre, com empresários e com outras empresas e com outros produtos que acham vantajoso associar a esse gênio da manipulação idiática.

Do mesmo jeito que a gente fala aqui que agora ele sequestrou midiaticamente o mundo inteiro, o Trump aprendeu a fazer isso sequestrando os tabloides de fofoca de Nova York. em seguida da Califórnia, em seguida dos Estados Unidos inteiro. Depois ele virou um astro de reality show, em que ele... Fingia ser um CEO de uma empresa inexistente, onde ele demitia pessoas que nem cargo tinham pra fingir que ele era o grande líder, mas ele sempre foi um perfil de si mesmo. Ele sempre fez um cosplay.

mas ele desenvolveu uma persona pública sabendo operar a economia da atenção midiática. Ele foi gênio disso. Isso é o talento do Donald Trump. Isso ninguém tira dele. Ele é mestre nisso mesmo. E o que eu acho que os tempos chegaram no Donald Trump... O Trump, nesse sentido, ele foi vanguardista, ele foi um visionário intuitivo, não um teórico. Ele encarnou... o que o mundo da pulverização midiática e das redes sociais meio que encorajou todo mundo a ser.

Então, quando a gente fala da Virginia, do Donald Trump, do Milley... Eles são os exemplos extremos, né? Eles são, assim, os casos clínicos e apoteóticos do que a gente tá falando. Mas o que me preocupa mesmo é que eu acho que a cultura do vendido é quase que parte da psicologia social hoje em dia. As pessoas querem se vender.

E eu acho que é diferente da pessoa ser comprada e do vendido. O é comprado é um cara que foi subornado. O é vendido é o cara que se vendeu, que estava à venda. Que no final das contas, o que ele queria era uma outra coisa. Daquela atenção pública dele. Então o Egreg colocou essa coisa super importante das bandas. E dos artistas. E da cultura. Então assim, você ser uma banda de rock que representava algo muito importante, que era uma dissidência do mundo capitalista.

que é você não se conformar com o que a sociedade espera. Que você seja As pessoas te admiravam por isso Você se tornava uma referência. Os shows eram lugares de uma catarse que representava muito isso, além da própria música. Quando uma banda ia fazer um comercial ou licenciava uma música, ela perdia exatamente credibilidade.

E essa vergonha, a gente não cobra mais desses artistas ou bate palmas, porque no fim das contas o cidadão tem a capacidade de fazer isso em micro escala. O tanto de gente que eu conheço, que eu respeito, que eu sou das minhas relações. e que foi naturalmente criando um modelo de negócio pessoal totalmente baseado em ganhar presente. em ser convidado para um hotel que ela não vai pagar em troca de créditos, de não sei o quê, de uma situação.

que eticamente não dá para condenar, do ponto de vista legal, é perfeitamente possível fazer isso, mas do ponto de vista cultural, meio que as pessoas não estão se vendendo como parte de um comercial. Elas estão se vendendo como pessoas mesmo. Porque isso é outra coisa. Uma é a publicidade dos anos 90 e os anos 80. Que você já pagava um preço, mas era um comercial. Você fica claro que tem um cachê que o Itaú te pagou pra fazer alguma coisa assim.

Outra coisa é a venda da vida privada, como a Virginia faz, como muita gente faz, como o próprio Trump fez. O que o Trump vendia não era também só imagem de empresário. Era a casa dele, eram as mulheres que ele saía, eram as amantes que ele tinha, era a festa dele. Ele não vendia nada além da própria fama dele. Então nesse sentido é que eu acho que a cultura não tem muito remédio pra esse tipo de coisa e de algum jeito, mesmo quem tá puto com o Donald Trump não sabe muito bem o que fazer.

Porque todo mundo meio é sem vergonha hoje. Todo mundo está meio se desavergonhando. Pra ser um personagem midiático de si mesmo, assim. Eu tenho impressão. E aí o vendido não funciona mais. Ninguém mais condena isso. É sinal de reconhecimento mesmo. É como o Greg colocou. As pessoas dão parabéns. pra uma pessoa que, tipo, que uma marca endossa ela. É muito doido. É uma inversão radical mesmo do valor, né? Do que é que se dá valor? Em que a coerência meio que deu lugar a uma coisa nova mesmo.

Ao quanto você foi aceito pela grana. Isso eu acho muito louco. E eu acho que o Trump é realmente o maior nome disso. Embora, não só, né? Ele e seus asséculos, porque o Midlay também é bem isso. Eu acho muito louco que não tem uma criminalização do cara ganhar dinheiro. É óbvio que é crime, né? Mas o fato do cara estar... Enriquecendo, enquanto está governando, para mim já é um paradoxo bizarro. Isso aconteceu, por exemplo, aqui no Brasil, a gente esquece disso, mas ele saiu ileso disso.

Que foi o nosso... Caralho, tá aí um nome que eu não falo há tanto tempo. Que eu esqueci. E olha que bonito. Que sorte ter esquecido disso. Paulo Guedes. Ah! Uau! Paulo Guedes, eu tive um branco, porque é um nome que a gente não ouve há tanto tempo, né? Exumou da memória, né? Ele tá ali, tranquilinho, no Thalio Capixaba, no Leblon. comendo seu pastrano. Fica aí o endereço, pessoal. Está lá, certamente, de segunda a sexta, no Expresso.

Pastramezinho ali. Tá ali de boa, tá? Deixando claro pro jurídico, esse não foi um chamado a qualquer tipo de violência contra o Paulo Guedes. Jamais. É um publi do Thalio Capixaba.

talho. Venha comer bem como o Paulo Guedes. Você sabe que o Paulo Guedes não vai comer pastrama de má qualidade. Sendo que, gente, enriqueceu pra caralho. Não vou falar de corrupção, porque eu não tenho embasamento dados pra isso. Mas enquanto ele tava no governo Bolsonaro... Só, por exemplo, com a desvalorização do real face ao dólar, ele que tem dinheiro pra caralho em dólar,

Ganham milhões e milhões de reais. Então, ah, foi de propósito que ele desvalorizou o real? Eu acho difícil, porque não acho que ele nem tem habilidade para conseguir nem desvalorizar o real sozinho. Eu acho que ele teria. de ser um sujeito tão também despreparado para a função que ele estava. Mas para além disso, não é um absurdo? Não é uma loucura pensar que uma pessoa pode entrar num governo para servir ao público e sair?

muito mais rico por causa dos seus investimentos pessoais, isso não ser crime? E sobretudo no caso do Paulo Guedes, já que você trouxe ele à baila, lembrando, o Paulo Guedes foi ministro da Economia durante o governo Bolsonaro. E ele ficou conhecido, entre muitas outras coisas, por declarações bastante polêmicas que ele deu, especificamente em relação à desvalorização do real frente ao dólar.

Falando que tava uma festa, que tinha empregado indo pra Disney. E essas declarações ficaram famosas, né? Infames. Enquanto isso, ele tinha... uma fortuna em dólar em paraíso fiscal. E essa grana se valorizou relativamente ao real durante esse período, né? Então o poder de compra dele no Brasil aumenta com essa mesma moeda. Para mim, para além de saber se houve ou não, é isso. O que mesmo me apavora nisso não é o aspecto legal.

É a falta de vergonha. A pessoa que vai ser ministra da Fazenda, se ela acreditar genuinamente que tudo bem você fazer uma política econômica que não priorize o câmbio, que pode ser uma posição perfeitamente... coesa e coerente de se ter e falar, não, a gente quer desvalorizar um pouco o real mesmo.

Isso é bom para certos setores da economia, isso faz sentido por excesso à razão, a gente não pode manter a moeda artificialmente valorizada. Você pode ter milhões de razões técnicas ou ideológicas ou políticas para... defender isso como ministro. E inclusive fazer declarações públicas defendendo isso, que foi o caso dele. Mas se você vai fazer isso, você tem que ter muita vergonha de ter dinheiro guardado em dólar.

Você tem que ter tirado o seu dinheiro de paraíso fiscal antes. Óbvio, gente. Tudo pra cá. Você tem que falar, meu Deus, mas se alguém pensar, sonhar, imaginar que eu fiz isso de propósito, eu vou morrer de vergonha. Eu não posso passar por essa vergonha. É isso, é a Virgínia fazer esse contrato. Eu não falo, gente, mas se isso vaza, onde é que eu vou enfiar a minha cara?

porque não tem a ver com se é crime ou não é crime, se ela podia ou não podia assinar o contrato, se o Paulo Guedes podia ou não podia enriquecer sendo ministro, tem a ver com a profunda vergonha que essas pessoas não sentem. E aí tem um problema que eu acho que é um problema do nosso campo, da esquerda, do campo progressista, por assim dizer. que é, a gente ficou, a gente sim, com lasco, com problema, com a palavra corrupção.

E qualquer coisa que chegue... perto de uma crítica que passe por uma crítica de corrupção, de banditismo, de mal-caratismo, a gente foge um pouco porque essa palavra e essas acusações, elas foram de fato manipuladas e usadas pela direita para atacar a esquerda.

Às vezes de forma absolutamente justa, muitas vezes de forma injusta. Então, a gente criou um... uma espécie de tabu mesmo, em que a gente não fala disso, mas a gente precisa voltar a falar, e a gente precisa inclusive expandir a nossa concepção do que é a corrupção. Porque existe a corrupção crime tipificada, mas assim como o racismo não é só o racismo tipificado como crime, é uma coisa maior, a corrupção como falha ética, falha moral, para além do que é tipificado como crime,

Ela é mais ampla, é uma concepção mais ampla e a gente precisa falar disso. É corrupção, é profundamente corrupto. É uma corrupção moral você se prestar a esse papel. Se o Trump tem amiguinhos dele que ganharam dinheiro por causa da depressão causada nos mercados depois do anúncio das tarifas,

e depois o aumento em decorrência da reversão da política, ele devia estar escondendo isso, porque isso é uma corrupção moral. No mínimo. Talvez seja uma corrupção, corrupção mesmo. Eu não duvido nada que tenha sido. Mas a gente não sabe. Mas que no mínimo...

que no mínimo é uma falência absoluta moral, uma coisa que deveria te causar profunda vergonha, isso sem dúvida. Mas é isso, é uma cultura em que isso foi tão banalizado, em que você pode ter o seu artista preferido, a pessoa que você mais confia, que você mais admira, te vendendo...

qualquer coisa, entendeu? Balinha de colágeno que não funciona, curso de uma coisa que ela não sabe fazer, criptomoeda de uma parada que vai quebrar amanhã, e tudo bem, tudo fica impune, tudo não tem nenhum tipo de punição nem social. Que isso vai, obviamente, entrando pra política. E é pra aí que a gente vai mesmo. Só que agora, em vez de você manipular só a fé, a boa fé, dos seus milhões de seguidores no Instagram, você tá manipulando a economia mundial.

Então são níveis de poder bem diferentes. E você tá falando pra uma sociedade que já não se importa com isso, que isso é o que é ser bem sucedido, que a vergonha só vai te atrapalhar no fim das contas. Que se você tira a vergonha, não é que você só explora os seus fãs e os seus seguidores. Vamos lembrar que a Virgínia, antes de fazer esse tipo de coisa, ela estava expondo os próprios filhos.

a milhões de pessoas, a patrocínio, a publicidade, invadindo a privacidade do marido, dos amigos, dos bebês. Publi de parto. Público de pato. Esse é o mundo que a gente tá. Então a vergonha do Paulo Guedes... Na hora em que ele foi trabalhar lá com o Pinochet. Mas ela foi perdida quando mandou para um paraíso fiscal. Então, assim, é só o passo lógico que se dá a esse tipo de coisa.

E em tese... Publi de criança. Publi de criança. A própria Virginia posta a foto da filha dela desde que a filha tinha semanas de vida fazendo publi. Por exemplo, a sociedade brasileira e o mundo todo teve um debate avergonhado nos anos 90, começo do nosso século, de publicidade infantil. Os programas infantis, o Show da Xuxa, Mara Maravilha, aquelas coisas todas, eles acabaram. em grande medida porque a sociedade meio que tomou uma vergonha na cara e proibiu a publicidade infantil.

E aí o modelo de negócio do show da Xuxa acabou, porque não dá pra fazer comercial pra criança na maneira como se fazia antes, como alvo é publicidade. Poucos anos mais tarde, as próprias crianças viraram a própria propaganda. É um lugar de desavergonhamento muito mais profundo que a publicidade tóxica que a gente tinha na nossa infância, que era terrível, não estou defendendo isso.

Mas é isso, esse fundo de vergonha saiu há muito tempo. E as pessoas, isso que eu falo, as pessoas têm um aspiracional que já inclui meio isso. A projeção de sucesso, a casa gigantesca, em geral, ela está vindo desse espaço. Tá vindo dessa falta de vergonha. As pessoas, elas fazem vídeos de recebidos, ou seja, de mimos que teriam chegado na casa delas, fake. Elas contam coisas. Eu sei. Eu não acredito, gente. Isso é muito deprimido. A marca. É.

compram e agradecem a marca por ter mandado. Ou seja, é uma fake publicidade. Não é só que a publicidade não é mais estigmatizada, é que as pessoas passam a comprar a publicidade. Elas pagam. Pra fingir que estão fazendo publicidade. Elas fingem que foram patrocinadas. Tem uma coisa que me incomoda muito também, que é o status de gênio a publicitários. Ah, é? Status de gênio a publicitários.

Assim, o sujeito fez uma opção na vida, que é vender cerveja ou vender o que for. Ele fez essa opção na vida. Sutiã, que é tido como a grande obra-prima da publicidade brasileira. Exatamente, aquela obra-prima. A Monalisa. Aquele gênio. Vender Sutiã, acabando com a autoestima de meninas.

A Capela Sistina é brasileira, é um comercial de sutiã de uma menina complicada. Sendo assediada. Se orgulhava muito. Até o final, o Oscar Oliveira falava assim, eu que inventei a expressão, o primeiro a gente nunca esquece. Eu que inventei. O conceito. O conceito. Obrigado. Que é outra coisa. É tipo Hegel, Marx. O mesmo que dizia assim, por que que Porsche é melhor que mulher?

Três motivos por que Porsche é melhor que mulher. E tá lá o gênio na publicidade falando assim, porque Porsche você pode trocar, pegar um novo. Você pode ter dois Porsche. E o Porsche não reclama que você está com outro Porsche. Ah, não para, Greg. Não me deprime demais. Esse daí é o gênio. É o gênio. É o nosso gênio. O Brasil produziu um gênio, que é o Austin Oliveto. É esse. É esse cara. O Porsche é melhor que mulher. É.

E aí fica uma hora e as pessoas, gênio, esse é o gênio. Aí ficam se dizendo gênio e prêmios, e caboré, e de outros gênios parecidos, dizendo gênio. Gênio? Por causa de um comercial, por exemplo, do Sutiã, que é basicamente um elogio ou assédio, é isso? É um homem, um velho, ali no caso, que criou uma publicidade que é sobre uma adolescente que ninguém olha pra ela. E ao comprar o sutiã, ela passa a ser assediada. Porque o maior valor que tem pra aquele velho é ser assediada.

Então, se ela comprar o sutiã, olha, parabéns, você vai pertencer a esse círculo seleto de mulheres que eu assedio. Gênio. Cara, o maluco inventou isso. Ele inventou essa narrativa. E assim, é tipo uma pessoa que optou por fazer isso da vida e ela ganha não só... rir o dinheiro como status de gênio. Acho que a pessoa tinha que escolher na vida entre ou

realmente encher o cu de dinheiro fazendo merda e vendendo merda e foda-se. Ou realmente tentar fazer alguma coisa de boa pro mundo e aí ganhar algum status social das pessoas gostarem de serem grátis a ela. Porque elas dedicaram uma vida ao bem, ao coletivo e à sociedade. Não, mas elas querem os dois. Elas querem os dois.

Elas querem os dois. Elas querem ter o status de um artista, que é uma pessoa que dedicou a vida à coletividade, porque eu acho que o artista no fundo é isso, é uma pessoa que dedica mesmo a vida. a encontrar um sentido para a sua cultura. Acho que o artista, mais do que uma pessoa que diverte tudo, é uma pessoa que tenta encontrar um sentido para a cultura e tornar a vida das pessoas que falam a sua língua ou que partilham da sua cultura um pouco melhores, porque...

criou um laço social, graças à arte, que ele fez. Isso é uma coisa. Outra coisa eu acho que é vender carro. Não acho que seja compatível mesmo. Não acho que seja a mesma coisa. Mesmo. Não acho que o publicitário é um artista. Mesmo. Acho que na verdade ele está nas antípodas do artista. Eu pensei em fazer publicidade quando era novo. Eu tinha uns 15 anos assim. Por sorte, eu tive um encontro que me desmobilizou.

Que foi com o Milor Fernandes. Ostentou, hein? Que era meu ídolo na época. Ostentou. Desculpa dropar esse name, mas eu tive a sorte de encontrar. O Recebidos, o Recebidos do Gregório. Vai lá, Greg. E o Milor falou pra mim assim... Publicidade, ele olhou com uma decepção. Com uma cara de como quem, assim, tinha dado pra ele um prato de cocô e falado que eu tinha cozinhado aquilo que era... Não, ele olhou e fez assim.

Por quê? Porque eu queria ser humorista, eu gosto de humor, né? Eu achei que ele ia gostar dessa ideia. Tão idiota que eu era. Agora, o humor é o oposto de publicidade. Humor é escolha ambação. Publicidade é você vender uma coisa. Humor é você fazer o contrário de vender.

É você detonar, destruir uma coisa. Tem menor relação entre humor e publicidade. É realmente diâmetro oposto. Oposto, oposto. Mas qualquer outra coisa vai ter mais a ver com humor do que a publicidade. Caralho, óbvio, mas... A publicidade ganhou tanto zeitgeist que ela passou a significar criatividade.

Humor. Quando ela é oposto à criatividade também, porque uma oposição para ser boa, ela precisa justamente não ser criativa, ela precisa dar um zeitgeist, ela precisa captar alguma coisa que já foi dita antes. Tanto é que ela é muito bem exercida hoje pelo chat GPT, por exemplo. Ela precisa captar um zeitgeist, ela precisa...

plagiar coisas que já existem. Tanto é que publicitário tem muita REF, né? Quase toda publicidade tem uma REF, que é uma coisa que já foi feita antes. Inclusive, um amigo publicitário me mandou uma coisa assim, Greg, olha que legal a publicidade estão fazendo na minha agência. A REF é o seu vídeo.

Caralho, que merda. Eles pegam o vídeo do Porta. Eles pegam o vídeo do Porta como ref. Não pagam nada ao Porta, obviamente. Mudam uma coisa ou outra e vira uma publicidade. Mas é assim que se faz publicidade. Com o ref. Amontoado de REF, muito antes da GPT.

É, e acho que parte do que é trágico é que a publicidade virou modelo de negócios da mídia o próprio Porta faz publicidade você não pessoalmente mas o Porta tem que fazer pra caralho tem que fazer é a única maneira do Porta sobreviver virou modelo de negócio da mídia já era né mas com o já era na mídia tradicional sempre foi publicidade

Mas com a erosão e a fragmentação do espaço midiático, como a própria mídia virou uma eu-mídia, né? Somos nós aqui, são figuras que são ao mesmo tempo repórter, comentarista, editor. e é uma pessoa, no fundo, não é uma redação, não é uma instituição, a publicidade, ela também vai se adequar a esse novo espaço. Então...

Se a publicidade é um modelo de negócio da mídia e se a mídia passa a ser a mídia dos indivíduos, que falam diretamente com o seu público, então a publicidade, obviamente, ela precisa se ancorar nesses indivíduos. ela não é mais o comercial entre um bloco e outro do telejornal, ela não é mais a publicidade entre uma matéria e outra do jornal impresso, ela é o próprio indivíduo que tem a sua credibilidade de jornalista

falando sobre aquele produto. É como se o William Bonner falasse de Bombril na bancada do Jornal Nacional.

E não a propaganda do Bombril entre um bloco e outro. Isso muda muito o próprio jornalismo e a própria ideia de um espaço midiático que tenha credibilidade. Mas ela se tornou esse modelo, ela se tornou, como você falou antes, Greg, o modelo de negócio da cultura a partir de uma regulação feita para isso, porque é isso que a Lei Rouanet é, é colocar na mão do departamento de marketing, portanto, de publicitários.

o poder de decidir o que é feito e o que não é feito no Brasil, e não é só no Brasil, essa lei foi moldada em cima de regulações de outros países, e agora eu acho que ela se tornou um modelo de negócio da política. Que é diferente da política precisar de publicidade, é diferente de você precisar fazer propaganda pra poder se eleger. Isso sempre foi o caso. Mas agora o seu fazer político, ele é um fazer de publicitário. A política pública, ela se torna uma peça de publicidade dela mesma.

E não é qualquer publicidade. É esse tipo de publicidade. Ela é desavergonhadamente sobre te enganar mesmo. É a propaganda enganosa como... Algo que é completamente banalizado. É vender coisas que não funcionam. É suplemento que não funciona. E no caso de política pública, vai ser uma política pública que não funciona. Vai ser a cloroquina. A cloroquina, ela tá pra política de saúde no âmbito da Covid-19.

Como, sei lá, o suplemento de vitamina BCADE tá pro vendedor de publi, que vende suplemento nesse mercado, digamos, o influencer de bem-estar, que vai te inventar ali um... comprimido qualquer pra você tomar. Então, toda essa galera que foi agora pra administração do Donald Trump, por exemplo, com o Warth K, que, né, o ministro da saúde lá deles, Essa galera vem desse universo, do universo de wellness coach, de influenciador de bem-estar.

É galera que ganhou rios de dinheiro vendendo tudo. Suplemento fajuto. Suplemento fajuto. E isso está agora dentro da política pública. Então é um modelo de negócios profundamente problemático. que no cerne dele existe um conflito de interesse, que não deveria ser adequado pra nenhuma profissão em que você precisa ter credibilidade, mas ele tá basicamente ordenando a nossa vida e como a gente consegue existir.

É por isso, aliás, gente, que aqui no Calma Urgente a gente tá tentando sobreviver sem publicidade. A gente abriu o Clube do Livro, a gente tá querendo criar uma comunidade de pessoas que apoiam o podcast. A gente descarta em algum momento fazer uma parceria com alguma marca? Não, não completamente, porque a gente quer manter o calmo, a gente quer manter ele gratuito e aberto e a gente quer...

que ele possa ser um serviço para o público. Mas a gente tenha tentado procurar outras maneiras de fazer justamente para se um dia a gente fizer, a gente poder ser criterioso também em como a gente faz. Se a gente perde essa fronteira, é muito difícil manter uma relação autêntica com o público. E é muito triste ver o que isso faz no primeiro escalão da política mundial. Porque tem isso também, tá? A cultura do vendido vem junto com o desmantelamento.

das redes, em geral, de financiamento dos artistas. Isso, exatamente. Tinha alguma maneira de ganhar dinheiro com direito autoral, por exemplo, e tem cada vez menos, com venda de livro, que vende-se cada vez menos, com coisas que estão deixando de vender. Isso, o autor de literatura vai ter que cada vez mais fazer recebidos de produto para calvície.

Não é. Greg, isso foi uma indireta? Você tem feito recebido os produtos pra calvície? Eu fiz o que mandaram aqui pra casa. O autor falou. Você tá querendo receber os remédios pra calvície? Não, cara, não. Inclusive, acabei de negar uma publicidade calvície. Puxa Greg, jura, conta pra gente Chateado, que é um dinheiro bom De implante de inoxidil Você negou porque você não usa o remédio?

Você não sabe se ele funciona. Eu não sei, eu não vou, sabe, me comprometer com isso, gente. É isso. É complicado. E eu acho assim, a Alessandra colocou agora, né, que nada a gente poderia procurar. Vamos deixar uma coisa muito clara, a gente nunca procurou. A gente nunca procurou. A gente nunca procurou, a gente nunca mandou esse e-mail, nunca pensou, nunca teve essa conversa.

E eu acho que se isso acontecer, não vai ser porque chegou a hora e a gente está confortável para fazer isso. Vai ser um tipo de derrota, na minha opinião. Na minha opinião. Porque assim, eu acredito piamente que independência midiática é prestar conta apenas à sua comunidade e a nenhum grupo que te sustenta com mais poder do que você tem. Então, nós temos o luxo de ter algumas centenas de apoiadores.

Que se a gente perde 3, 4, 10, a gente se mantém. Se a gente ofender 15 pessoas, 20 pessoas, pode nos abandonar e a gente vai adaptando isso. Porque o nosso compromisso é com o que a gente acha. E assim, publicidade, por mais separada que ela seja do nosso editorial, por mais ético que seja, você cruza uma certa linha em que a sua liberdade editorial vai ter que ser pensada a partir desse ponto de vista.

Isso é uma coisa. E não é uma condenação de quem faz isso, até porque estruturas maiores precisam de tipos de financiamento que é praticamente impossível você conseguir só com apoiadores. Só estruturas muito pequenas e ainda assim poucas. Tem essa capacidade. E o Greg colocou um negócio que é super importante e sendo mais compreensível com as vítimas da cultura do vendido. Que assim, tiraram receita. da produção genuinamente criativa de maneira profunda nos últimos 20 anos.

É muito difícil você ser um músico pequeno e médio no país, ao ponto da impossibilidade de se manter. É quase impossível você ser um desenhista, um quadrinista, um ilustrador, um ator, uma atriz. se você não cruza uma linha de um porcentual muito pequeno de pessoas que chegam numa linha de fama e de sucesso. E o caminho intermediário único que parece possível é a sua lista de seguidores e as formas de monetização que essas plataformas dão. Então você com 10 mil, 5 mil, 20 mil, 50 mil pessoas...

Se você operar na monetização de se ir a vender, isso talvez seja o único jeito de você ter uma subsistência econômica real em uma vida criativa e não corporativa. Também. É um jeito de não trabalhar no escritório. Eu vejo muito influenciador falando isso e a parte que eu mais respeito do influenciador. que ele fala assim, eu não quero ficar das nove às sete trabalhando numa empresa que eu detesto.

Eu prefiro ter a minha vida livre e vendida e cringe e desavergonhada, mas é o que a nossa cultura também estruturalmente está oferecendo. Então tem uma questão que não é simplesmente uma questão moral de pessoas que se a corromperam, mas tiraram a subsistência possível de uma vida de classe média criativa. É muito complicado se você não vai pra um lugar mais ou menos vendido mesmo como o jogo em campo, né?

É foda isso. Agora, em defesa da publicidade, Greg, eu só queria fazer um comentário pros meus colegas publicitários que eu concordo com quase tudo que você disse. E eu acho que dá pra ser criativo. Eu acho. Eu acho que dá pra ter boas ideias, dá pra ser engraçado. Mas o que você colocou aqui pra mim é o central, é que é diferente de arte. É totalmente diferente. Porque o final da coisa importa muito mais do que o meio. E quando você junta as duas coisas para a sociedade...

Quando a sociedade acha que o filme que ganha cane é a mesma coisa que o comercial que ganha cane, você faz com que a arte deixe de ter uma função super importante na sociedade inteira, na civilização. que é uma dissidência. É um lugar que não faz parte do mundo comercial mesmo. Ele precisa do comercial para existir. Mas o objetivo é outro.

O objetivo é a nossa construção psíquica, é o nosso questionamento, são as crises que são colocadas, são as coisas muito desconfortáveis que terem para ser editas. E o que a publicidade faz, que é muito perverso, é pegar as coisas genuínas, as coisas espontâneas que aparecem de comportamento, de ideia, e falar como eu faço isso ou virar um comercial.

Como é que eu faço isso virar slogan de tênis, slogan de Coca-Cola, slogan de imobiliária, que pega um estilo de vida pra acabar com bairros e levantar prédios. E o que é louco é que pelo menos tinha essa vergonha, pelo menos as pessoas tinham culturalmente essa separação clara entre o que quer comercial e o que quer um festival de música. Lembro quando o Nirvana, que pra mim é um exemplo das últimas bandas que mantinham isso muito intacto, virou a maior banda do mundo.

Eles fizeram o pior show da vida deles em São Paulo. Foi um show horroroso que eles fizeram. Inaudível. E não foi porque ele tava chapado, porque a banda tava desandada. É porque o Kurt E. Cobain ficou sabendo pelo João Gordo. Que o Hollywood Rock, que o Hollywood era uma marca de cigarro.

e não o nome de um festival que tinha o bairro de Hollywood. Então o Kurt achava que Hollywood era simplesmente o nome americanizado de um festival. E ele não teria vindo se ele soubesse que era uma marca de cigarro. Isso um cara que era fumante, viciado em crack e heroína. Mas ele tinha essa clareza muito clara. Ele falou assim, eu faço toda essa loucura, mas eu não pego dinheiro de marca de cigarro. Então se eu tenho que tocar porque eu já fiz essa merda...

eu vou fazer o pior show da minha vida. E de algum jeito, esse show, até hoje, ele é um dos shows mais icônicos, apesar de serem piores, porque foi um show em que eles mostraram que eles são uma banda íntegra e não uma banda boa. E algo impensável hoje. Eu nunca imaginaria um artista brasileiro, americano, de nenhuma escala. dando um vexame desse, entendeu? Fazendo o pior show da vida de propósito porque o patrocinador é tosco, entendeu? É.

É foda. É, não, e em defesa também, porque agora eu não quero ser a pessoa que odeia publicitários. Não, inclusive, tem vários amigos que são. Muitos amigos. Isso é o que mais me dói. Isso é o que mais me dói. Me dói pelo seguinte, porque são pessoas brilhantes. tem pessoas brilhantes brilhantes a publicidade ela suga mentes brilhantes para trabalhar do consumo de coisas que não precisam ser consumidas mais do que são ou do que não merecem, enfim.

pro supérfluo. Isso que eu acho mais louco, né? Que arte é considerada supérflua. Mas, no fundo, se tem algo supérfluo, é a publicidade. É, e aí eu acho que tem uma contradição que talvez valha a gente explorar em outro momento de forma mais profunda. que é, os mercados, eles são bem estruturados, né, em alguma medida, pra dar sinais do que as pessoas querem consumir, dar sinais pra quem vai produzir do que as pessoas querem consumir e vice-versa, né.

Mas o que você quer consumir, o que você vai consumir, sobretudo sob a influência de publicidade, é diferente daquilo que você valoriza. Se você perguntar, e acho que a gente, às vezes, a gente é levado a, incitado a colocar as duas coisas como sendo a mesma coisa. Então, não é necessariamente porque você vai consumir mais, sobretudo em quantidade de uma coisa, que é aquilo que você mais valoriza.

Você pode ser alguém que, se você for olhar o número de minutos que você passa, sei lá, vendo fofoca no Instagram, vai ser mais tempo do que você passa lendo bons artigos de opinião com profundidade ou boas reportagens investigativas sobre temas importantes.

Mas não é porque você consome mais de uma coisa que você necessariamente valoriza mais essa coisa. Se alguém te perguntasse amanhã o que você acha que deveria desaparecer da face da terra? A fofoca de Instagram ou os artigos de reportagem investigativa? Talvez você falasse a fofoca de Instagram. Assim como talvez você coma mais, sei lá, produtos, comidas açucaradas,

Mas você não necessariamente valoriza mais isso. Se alguém te perguntar, você fala, não, eu valorizo mais, sei lá, uma boa comida saudável, etc. Mas não necessariamente é o que você vai mais consumir. Então, quando a gente começa a confundir as duas coisas... É aí que a gente corre o risco de deixar para o mercado todas as decisões políticas sobre aquilo que a gente deveria ofertar para a sociedade. Então a gente só oferta para a sociedade aquilo que tem um mercado consumidor.

E para esse mercado consumidor, o que importa é a quantidade, a velocidade de consumo. Não é o quanto que a gente, de fato, valoriza uma coisa. É claro, um economista mais liberal, clássico, vai te dizer, não, mas se você valoriza, você paga por preço. É a maneira como a gente mede como é que as pessoas valorizam uma coisa.

Eu não acho que isso seja totalmente verdade. Eu acho que tem certas coisas que a gente não necessariamente vai abrir o bolso pra pagar, mas que socialmente a gente valoriza sim. Mas a gente valoriza quase como ideias, como ofertas de coisas que deveriam existir no mundo. Eu quero viver numa cidade que tem um museu. Não quer dizer que eu vou entrar todo dia naquele museu. Não quer dizer que eu vou passar a minha vida vendo exposições no museu e pagando por elas.

mas eu acho importante que ele exista. Eu quero estar numa cidade que tem uma biblioteca, que tem um cinema, mas talvez eu assista mais videozinho no celular no meu dia a dia, mas a importância da existência daquele equipamento cultural, ela se dá através de um outro tipo de valoração.

É pra gente poder fazer a construção desses comuns, dessas coisas que a gente valoriza, mas que não necessariamente uma lógica de mercado vai dar conta de manter no lugar. E a gente tá perdendo isso. A gente tá se deixando convencer. De que o mercado, ele dá conta de todas essas preferências e ele não dá. Ele não dá. Até no nosso dia a dia. Se você for olhar, sei lá, como eu passo o meu tempo, eu não passo a maior parte do meu tempo com as minhas filhas.

Eu passo a maior parte do meu tempo em horas mesmo. trabalhando, ou fazendo outras coisas pra mim, ou estando com meus amigos, ou meu parceiro, e uma parte do meu tempo com as minhas filhas. Mas se você fosse tirar uma coisa da minha vida, certamente a coisa que mais me doeria e que não dá pra tirar são as minhas filhas. Então, aonde a gente bota o nosso tempo, não necessariamente é uma consequência apenas de valor, entende?

E acho que a gente partiu para um lugar político em que essas coisas são tratadas da mesma maneira. A gente vai vendo isso na política, porque a gente vai delegando mais espaço para os mercados. E aí agora, se não houver um mercado para uma transição climática adequada, ela não se fará. se não houver mercado para a gente manter uma classe artística capaz de fazer sentido do mundo para a gente,

Essa classe artística vai morrer ou todos os talentos vão ser cooptados pela publicidade, porque ali tem mercado. E quem tem uma boa ideia, quem teria um espírito empreendedor e poderia criar uma coisa nova ou inovar, vai virar influenciador.

E no final das contas, além de tudo, todas essas economias ainda são economias... meio neocoloniais, com o extrativismo da periferia para o centro, em que o maior sócio de toda essa nova economia, tanto dos espaços midiáticos quanto dos novos espaços de criação artística e assim por diante,

É uma empresa no Vale do Silício que nesse momento está o quê? Subordando o Donald Trump. Financiando. Fazendo contribuição pro fundo de inauguração do Donald Trump. É nesse lugar que a gente tá mesmo. E banindo o conteúdo crítico. Alessandra. minha peça, eu pra fazer minha peça, pra fazer meu monólogo que eu faço, então eu vou, como é que eu me financio hoje? Talvez você esteja se perguntando, para além do Clube do Livro, que infelizmente não paga as minhas contas. Todas as suas contas.

Eu preciso de uma fonte de financiamento. Qual é ela? Teatro. Feitos fenícios. Fenícios não. A gente chama de teatro. Feitos gregos. As pessoas se reuniam. Fenícios não. Eu adoro falar feitos sumérios. Feitos fenícios. Mas agora eu não sei preciso. Feito os gregos, feito a fonte de subsistência do artista há 2.500 anos.

Ah, chegava. Na verdade, a Grécia nem tinha ingresso, porque era na praça mesmo. Aliás, plateia, a palavra plateia é praça em grego, sabia? Até hoje você vê, plateia e tal, é praça, porque pra eles é sinônimo, a praça era a plateia. E aí é a plateia, é o que me financia, é a praça, ingresso e tal.

O Clube do Livro é uma variação disso. É uma plateia também. É uma maneira do público. Só que, para que as pessoas vejam a minha peça, elas precisam saber que eu estou em cartaz. Para as pessoas saberem que eu estou em cartaz... Não adianta muito mais, hoje em dia, uma página na Folha, não. Não adianta uma entrevista. Não adianta, gente. Desculpem aí.

Os jornalistas, a coisa, não adianta. Inclusive, se eu der uma entrevista... Os jornais te procuram pra dar uma entrevista hoje mais porque a sua audiência vai lá ver o jornal deles do que o contrário. Porque a audiência da Folha não vai ver minha peça. A minha audiência é que... A Folha está mais interessada na minha audiência do que eu estou interessado na audiência da Folha. Isso daí inverteu completamente. Como é que eu faço para as pessoas verem? Eu te digo. Post patrocinado.

o produtor da peça me convenceu mostrando dados que a cada 100 reais que você bota ali são 2 mil, 3 mil em vendas. É ingresso na hora, clica. Porque o Instagram hoje é feito para que o post patrocinado venha. Então, ou eu faço uma peça que vai ter meia casa, porque ninguém vai ficar nem sabendo, no final do mês vão falar assim, pô, você estava em casa em São Paulo? Que pena, queria ter visto.

Ou eu dou dinheiro pro Marcos do Quebec. E é isso que eu estou fazendo, tá? Então, o meu ordenado... O rico dinheirinho. Meu rico dinheirinho que vem de vocês, vem do público, as pessoas que querem ver o meu trabalho, eu tenho que tirar uma parte gorda dele. para dar para o Vale do Silício, para dar para o Zuckerberg, o cara mais rico do planeta, um, dois.

Então, olha que parada doentia e dolorosa. Me dói muito, me dói muito fazer isso. É terrível. Muito, muito. Mas é o que eu tô fazendo, porque não tem alternativa. Se tivesse pelo menos concorrência, não tem. Não tem concorrência, não tem alternativa, não tem concorrência, não tem nada. Então é mesmo o tecnofeudalismo, é uma pessoa só, é um...

E esse tecnofeudalismo agora tá com uma aliança com um outro rei, um monarca sentado ali em cima da Casa Branca, que tá deixando muito claro que a passagem é por ele. Ele é que cobra o pedágio. Não é os Estados Unidos, não é o país, que já era um problema, porque já é uma potência imperialista, com milhões de problemas.

Mas pelo menos tem alguma institucionalidade. Não, é ele na física. E ele na física fazendo aliança com outro na física que é o Bukele. Pra criar eixos em que nenhuma institucionalidade é capaz... de criar qualquer tipo de... imperdição, ou de possibilidade, não tem autoridade institucional possível. Assim como não tem autoridade institucional nas redes sociais, em muitos casos. É a coisa que eles mais odeiam. É quando alguém tenta colocar algo, falar, não, vocês têm que seguir a lei do país.

Aí isso não pode. E aí estamos. Bom, faixa astral, hein, pessoal? Encaminhando para o fim, o corte lacaniano desse programa, ele acontece quando é uma coisa muito baixa de traudita. Para deixar vocês pensando nisso, antes eu queria uma sugestão de leitura de Alessandra.

enquanto eu vou pegar a minha sugestão que tá lá no quarto um segundo então vai falando aí Bruno ou Alessandra eu vou lá Greg quer começar Bruno vai lá você eu posso começar tem duas dicas uma delas O primeiro livro que a editora Todavia publicou quando foi lançada no país chama O Vendido. Do Paul Beatty. Não é um livro que fala sobre esses assuntos que a gente disse.

mas o nome em inglês é The Sellout, em português é vendido, e é um romance que eu acho brilhante, um romance que quem leu em geral ama, porque é um livro bastante diferente do que se espera de um romance contemporâneo. mas ele fala muito sobre esses limites entre vergonha, falta de vergonha, ética e tal, mas é um livro que trata, é um romance que fala especialmente sobre a questão racial nos Estados Unidos. mas de uma perspectiva e com uma linguagem, é humor.

muito dissidente mesmo do que se espera de um discurso de raça nos nossos tempos. Eu acho o livro maravilhoso e o escritor é muitíssimo bom. E o segundo livro, comecei a ler nesse final de semana, Dica do Próprio Greg, quando a gente falou no telefone, que é A Sabedoria das Corujas. Um outro livro da Jennifer Ackman, que escreveu um livro chamado A Inteligência das Aves. Que é maravilhoso. Que eu tive o prazer de escrever, é orelha, para a editora Fósforo.

E ela lançou um só sobre a Zé Corujas. E eu fiquei muito feliz que esse livro saiu agora. porque eu tô num mês, dois meses, obcecado com as Zé Corujas, muito por conta do meu filho, que ele tá obcecado com a Zé Coruja, então a gente tava... vendo vídeos, indo atrás delas. E tem um livro inteiro, é dedicado a esse animal que é um dos topos. da evolução e da própria diversidade interna, sobre consciência, caça, audição, hábitos. Então é para quem gosta de pássaros e um jeito de passar tempo.

com coisas que a gente valoriza, sem pensar no Donald Trump, sem pensar no Bukele, sem pensar em rede social, é um baita livre. Bom, eu vou indicar um livro em inglês, coisa que o Greg sempre me fala que eu não posso fazer, mas eu vou fazer porque eu estou em minha defesa fora do Brasil, não estava conseguindo ler muito. Porque eu tô aqui com duas crianças e trabalho e tá uma loucura. mas eu tava na casa de amigos nesses últimos dias, esse livro tava lá e eu comecei a ler e não consegui largar.

E acho que tem a ver com a conversa de hoje. Então, é um livro que em inglês se chama The Golden Passport, o Passaporte Dourado. É um livro de 2017. O nome inteiro é The Golden Passport. Então, passaporte dourado. Harvard Business School, na Escola de Negócios de Harvard, Os Limites do Capitalismo e a Falência Moral da Elite de MBA. Mas basicamente é um livro de um jornalista investigativo muito, muito bom. que já fez vários outros livros interessantes.

olhando para instituições importantes para o capitalismo como ele funciona hoje. E nesse livro ele se debruça sobre a Harvard Business School, já tem uns quase 10 anos que ele escreveu, então acho que algumas coisas mudaram desde então. Mas o que eu achei mais fascinante do livro é que ele vai mostrando como, pra começo de conversa, né? A Harvard Business School hoje é a escola de negócios mais prestigiosa do mundo.

Foram eles que inventaram o termo MBA, o Masters of Business Administration. Não existiam MBAs antes de Harvard falar, a gente vai dar um Master of Business Administration para as pessoas que fizeram em Harvard Business School. E aí basicamente o que ele vai mostrando é que... Pra Harvard foi uma capitulação. Eles ficaram anos dizendo, a gente não vai criar uma escola de negócios.

Porque você trabalhar em business, você trabalhar com negócios, é uma ocupação menor. Ela não está à altura dos nossos graduados, de quem a gente quer ensinar. A gente está aqui para criar um espaço de busca intelectual ou, na pior das hipóteses, para formar o que eles chamavam de classes profissionais, os médicos, os advogados.

Os militares. Os cientistas. Tradicionalmente as grandes classes profissionais são o clero, os militares, os advogados e os médicos. E aí se somam outras profissões adjacentes. Mas pessoas que querem criar empresas...

Não era um público à altura do que a escola queria ser e fazer. E isso vai mudando no final do século XIX e no início do século XX com o advento de grandes empresas que tem uma pegada nacional ou internacional e que quando elas começam a surgir como grandes multinacionais não públicas, então é diferente, sei lá, da Companhia das Índias,

dessas empresas meio justamente de potências coloniais, mas empresas realmente privadas com esse tipo de pegada, em que você passa a ter necessidade do executivo, essa figura que não existia antes. Porque se você fosse dono de um negócio, era você que gerenciava os seus empregados, porque você tinha, sei lá, 5 ou 10 na sua padaria. Mas quando você é dono da Ford, você não pode gerenciar toda a sua força de trabalho, você precisa de um executivo.

E ele até fala que até então nos Estados Unidos a coisa mais próxima de um executivo que existia na economia americana eram na verdade as pessoas que trabalhavam para grandes senhores de escravos que gerenciavam essa mão de obra escravizada. As plantations americanas eram as que mais se assemelhavam a uma empresa desse tamanho. E isso é substituído por essas grandes empresas. E aí tem a emergência de uma classe executiva. E isso passa a ser um caminho profissional desejável.

Então você tem uma certa migração daquilo que tem status na sociedade, daquilo que detém capital social, cachê cultural. de classes profissionais. que tem, em alguma medida, ele fala, o que distingue as classes profissionais é que todas elas têm algum tipo de ética de serviço público.

Ainda que não necessariamente todo mundo siga, mas os advogados têm uma ética profissional que eles precisam seguir, os jornalistas têm uma ética profissional que eles precisam seguir, que está além das relações comerciais, os médicos... Tem o juramento que eles fazem do que eles podem ou não podem fazer. Isso escapa as relações profissionais. E nesse caso, o executivo não tem. A única obrigação fiduciária dele é entregar lucro para o acionista da empresa.

E a emergência da Harvard Business School, ela acompanha essa emergência de uma classe executiva desapegada de qualquer tipo de visão de serviço público. Então, acho que é bem interessante como investigação e recomendo para quem gostar de ler inglês.

Tudo a ver com o tema de hoje. Tem tudo a ver com o tema de hoje. Perfeito. Gente, com isso dito, eu vou ter que correr pra pegar minhas nenéns. Que estão aqui aos berros. Um beijo. Beijo, Alê. Eu vou falar rapidamente antes de ir dos Monstros de Hitler. Um livro da Zahar que saiu espetacular. Fascinante. sobre as crendices do terceiro raiz.

Um fato que eu não sabia. Sabia que eles eram seculares. Eu sabia que os nazistas não eram muito religiosos, não gostavam muito das instituições religiosas, certamente. Não eram católicos, nem eram protestantes. Eles eram seculares, entre aspas. Não diria laicos, mas seculares. Só que não, no mesmo tempo. Porque eles acreditavam em qualquer coisa. Era um bando de riponga. Na Naíra da São Tomé das Letras.

Com todo respeito. Tô brincando, tá, pessoal? Se não tomei das letras. Mas basicamente era uma coisa assim. Era um misto de astrologia. Os nazistas financiaram pesquisa de astrologia. Dinheiro público para astrologia. para uma coisa que eles acreditavam que era cosmogonia glacial. Uma ideia bem terraplanista de que o mundo teria sido mudado. Eles eram super místicos. Hitler lia pra caramba livros de magia. Ele adorava o conceito de magia. Muito ocultismo.

Hitler adorava até a ideia de satanismo. Ele achava que existia um espírito do mal que era positivo dentro das pessoas e que era uma espécie de demônio. Enfim, eles acreditavam em qualquer coisa. E para mim é divertidíssimo ler porque eu odeio... Crendices, superstições, embora... Superstições eu até tenho uma ou outra.

Mas eu odeio espiritualidade, essa ideia de que a espiritualidade é boa, entende? E o nazismo tá aí pra provar que não. Cara, Himmler foi ao Tibete. Himmler foi ao Tibete. Sabia que ele foi ao Tibete? Himmler. Fazer o quê? Descobrir as origens da raça ariana. Porque a maior loucura é que o hinduísmo é a base. Cara, eles encontraram no hinduísmo uma base religiosa perfeita.

Para o nazismo. O hinduísmo deixa muito claro que existem castas, que os seres humanos não são iguais. Cada um ser humano, cada raça, a gente chama de casta, mas cada casta ou raça nasce para uma coisa. E os caras leram aquilo e falaram, pronto, encontrei, é isso. Como é que os caras iam seguir uma religião? Então, assim, eles acharam...

Ali no hinduísmo, então, até o ponto se apaixonaram, foram pro Tibete, cara. Esse daí, pra mim, dava uma série, que é a Sociedade Tully, que é a Sociedade do Himmler, indo ao Tibete. para conhecer, para provar cientificamente a superioridade da raça ariana. Então, é um livro bem fascinante sobre um universo bizarro, para dizer o mínimo.

Que eram as crendices, assim, a espiritualidade dentro do terceiro raiz. Muito fascinante e bem escrito, interessante. Nazar, Erich Urlander, Os Monstros de Hitler. Tem um complementar que é parecido. que é sobre o quanto os nazistas eram drogados. que tem o Rai Hitler, que é o Rai de alto, não o Heil, mas o Hitler chapado, basicamente, foi publicado no Brasil. Acho que com esse título mesmo, vocês vão achar.

E tem um outro livro recentemente que saiu, não vou lembrar o nome, mas depois eu ponho na nossa descrição, que também vai mais fundo nessa questão, que não só o Hitler e os nazistas eram muito drogados. com metanfetamina, basicamente, e outras drogas, outras substâncias, mas que a sociedade alemã, naquela época, era totalmente viciada em metanfetamina. Inclusive, parte dos sintomas culturais da sociedade como um togo podem ser explicados em parte.

por uma adição coletiva megalomaníaca em metanfetamina. E era uma metanfetamina feita pelos laboratórios, acho que pela própria Merck, e foi se descobrindo isso, que era algo que as crianças usavam, os senhores usavam, não sei o quê. E o Hitler, ao longo da carreira dele, foi ficando absolutamente viciado nisso, depois em cocaína também. O que explica a parte da megalomania, das noites sem dormir, das paranoias e de uma série de coisas.

Porque a gente já sabia que os soldados alemães, como de várias outras máquinas de guerra no mundo, têm as drogas como parte do seu kit ali, para suportar dor, fome, noites acordadas. pilotar e tudo mais. Mas a sociedade nazista alemã era muito usuária de estimulantes muito fortes como um tônico para o trabalho, para a performance acadêmica. para uma série de outras coisas super interessantes.

Caralho, eu tô vendo aqui. Saiu no Brasil. Hei Hitler. Quem quiser procurar. Hei Hitler saiu. Acho que é da planeta, se eu não me engano. Norman, olha. Mas tem um livro mais recente de um pesquisador alemão que fez essa pesquisa e agora recentemente para o meu espanto, uma descoberta recente também. Os nazistas, a gente achava que antes era a CIA que tinha feito isso antes e a KGB na União Soviética. Mas foi a Alemanha nazista o primeiro governo que se interessou pelo uso de LSD.

como um potencial soro da É Verdade, como arma de interrogatório e como arma para... manipulação da mente então os zenazistas Vamos lembrar que o LSD foi descoberto em 43, os seus efeitos foram descobertos. rapidamente a Alemanha entendeu isso, começou a utilizar. antes de perder a guerra em 43. Então foi super ágil pra você ver como eles eram também abertos à psicoatividade como ferramenta de construção social. Muito louco. Bom...

Dito isso, até mais, pessoal. Até a próxima, Greg. Até semana que vem. Até quarta, quem estiver no Clube do Livro, que sou eu hoje no Clube do Livro, hein? Então, até já. Falando de Maniac, esse livro espetacular. Muito bom. Reli pro clube, curti. Beijo, Greg. Até mais. Beijo, pessoal. O Calma Urgente é uma produção da Peri Produções.

Na apresentação temos Alessandra Orufino Gregório do Vivier e Bruno Torturra. Na coordenação de produção, Carolina Foratini Igreja. Na edição, captação e mixagem, Vitor Bernardes. Na sonoplastia, Felipe Croco. Nas redes sociais, Theodora do Vivier e Bruna Messina. E no design, Pedro Inoui.

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